Título: Piloto da FAB só teve 16 minutos para fazer o pouso forçado em igarapé
Autor: Éboli, Evandro; Litaiff, Paula
Fonte: O Globo, 31/10/2009, O País, p. 4

"Minha dor só vai passar quando eu vir meu filho", diz mãe de sobrevivente

BRASÍLIA e MANAUS. O comandante do 7º Comando Aéreo Regional (7oComar), majorbrigadeiro Jorge Cruz de Souza e Mello, informou ontem em Manaus que o piloto do monomotor Caravan teve apenas 16 minutos do momento que o avião apresentou problemas até o pouso forçado, em um igarapé do Rio Ituí, no município de Atalaia do Norte, no Amazonas. O comandante disse que ainda não são conhecidas as causas do acidente. Segundo o Comando da Aeronáutica, a tripulação do monomotor Caravan é extremamente experiente. A experiência do piloto Carlos Wagner Veiga contribuiu muito para o sucesso do pouso de emergência e para que todos os passageiros saíssem em segurança. O trabalho na região amazônica dos técnicos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) que se tornaram vítimas do acidente envolve riscos e dificuldades. Para chegar a algumas localidades no meio da floresta e promover campanhas de vacinação em aldeias indígenas, eles viajam até dez dias de barco, dependendo do lugar. A fundação criou distritos de saúde indígena e as equipes são deslocadas na região até de voadeira, pequenos barcos movidos a motor de popa. TV Brasil fez reportagem com os técnicos da Funasa Há dois meses, a TV Brasil levou ao ar uma reportagem sobre o trabalho dos agentes da Funasa e, coincidentemente, entrevistou três servidores do órgão que estavam no avião Caravan da FAB que sobreviveram ao pouso forçado. No programa, Marcelo Nápoles de Melo, Diana Rodrigues Soares e Marina de Almeida Lima relatam o trabalho que fazem na região. ¿ As dificuldades são grandes, mas é o nosso trabalho. Para chegarmos a alguns lugares, viajamos dias de barco, com mochilas nas costas ¿ disse Diana à TV Brasil. A Funasa presta todo serviço de saúde aos índios. Há alguns anos, o atendimento era feito pela própria Fundação Nacional do Índio (Funai), que não dava conta desse trabalho. A atenção ao indígena envolve ações nas áreas de saúde da mulher e da criança, saúde bucal, controle da malária, saúde mental, assistência farmacêutica, acidentes com animais peçonhentos e medicina tradicional. A população indígena é distribuída em 24 estados e em 432 municípios. São 4.413 aldeias distribuídas em 615 terras. A população indígena é de 538.154, dados de 2008. Os nove servidores da fundação possuem entre 12 e 20 anos de tempo de serviço e, todo mês, passam pelo menos 15 dias em campo, fazendo atendimento nas aldeias indígenas do Amazonas. Todos são casados e têm filhos. Nesse último acidente, os servidores participavam da Operação Gota, que leva vacinação às comunidades indígenas da Amazônia. Em entrevista ao site G1, dona Marly Nápoles de Melo, mãe de um dos sobreviventes, disse que não dorme desde que soube do acidente, anteontem, e que só vai descansar quando estiver com o filho. Ela é mãe de Marcelo Nápoles de Melo e sogra de Diana Rodrigues Soares, que também estava na aeronave. ¿ Minha dor só vai passar quando eu vir meu filho. A noite foi péssima. Não dormi e não vou dormir ¿ disse ela. Segundo dona Marly, Marcelo é o coordenador da campanha de vacinação da Funasa e faz esse voo regularmente. Ela cuida das três filhas do casal, de dez, cinco e três anos. ¿ As pequenas não entendem o que aconteceu. A mais velha está em estado de choque, não come desde ontem