Título: Sindicatos negociaram as mudanças
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 31/10/2009, O País, p. 10

Para aceitar troca de nomes, eles conseguiram reduzir contribuição

Depois de dois anos de resistência às mudanças no comando da Fundação Real Grandeza, um dos cinco maiores fundos de previdência privada do país, as entidades sindicais dos trabalhadores de Furnas Centrais Elétricas resolveram capitular.

Representantes de 19 sindicatos e associações, reunidos em torno de um fórum de defesa da Real Grandeza, fecharam acordo com as duas patrocinadoras da fundação, Furnas e Eletronuclear, pelo qual aceitam a substituição do presidente e do diretor de Investimentos da entidade em troca de mudanças no Plano de Custeio que reduzirão as contribuições mensais dos participantes.

Desde a posse do ex-prefeito Luiz Paulo Conde na presidência de Furnas, em setembro de 2007, os sindicatos e associações de ativos e aposentados lutavam para impedir que o PMDB fluminense, responsável pela indicação do novo presidente, mudasse também os dois principais cargos da Real Grandeza. Agora, para explicar a mudança de posicionamento, com a aprovação dos nomes de Aristides Leite França para presidente e Eduardo Henrique Garcia para diretor de Investimentos (este indicado pela direção de Furnas), os sindicalistas alegam que era preciso garantir a governabilidade do fundo: ¿ A gente conseguiu uma saída para o impasse. A fundação estava engessada. Os assuntos não caminhavam quando eles chegavam à patrocinadora (Furnas).

Havia, para ser ameno, muita má vontade. A fundação precisava cumprir determinadas exigências ¿ alegou Geovah Machado, representante dos trabalhadores no Conselho Deliberativo da fundação.

Embora Eduardo Leite França, economista que trabalha há 12 anos em Furnas, seja uma indicação da diretoria peemedebista de Furnas, os sindicalistas afirmam que a posse do futuro diretor de investimentos não representará uma ingerência partidária no fundo de pensão.

¿ Tivemos uma conversa boa com ele. Eduardo assegurou ao fórum das entidades que não tem qualquer indicação partidária. Foi indicado pelo critério técnico. E ainda nos desafiou a fiscalizá-lo ¿ disse Carlúcio Oliveira, coordenador do fórum de entidades e dirigente do Sindicato dos Urbanitários de Brasília.

Já Aristides Leite França, que é administrador de empresas e trabalha em Furnas desde 1975, vai ocupar a presidência da fundação por indicação dos próprios trabalhadores. Ambos, já aprovados pelo Conselho Deliberativo e sabatinados pelo fórum, vão tomar posse no dia 16, em lugar, respectivamente, de Sérgio Wilson e Ricardo Nogueira (que tinham a opção de ficar por mais um mandato). Até o acordo de anteontem, a posição das entidades sindicais era pela manutenção dos atuais diretores como forma de blindagem de ingerências políticas.

Sindicalistas dizem que não houve barganha Para aceitar a substituição, os sindicalistas se contentaram com a assinatura, por parte da direção das duas patrocinadoras e do Conselho Deliberativo da fundação, de um pacote de mudanças que prevê um novo Plano de Custeio para a entidade.

Entre outras alterações, está prevista a redução da contribuição dos trabalhadores da ativa de 13% para 8,3% dos salários, além da diminuição da contribuição dos aposentados à metade do valor a ser pago pelos ativos, e ainda o aumento do valor dos proventos das pensionistas.

Geovah Machado afirmou que o acordo, que ainda depende da chancela da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), não implicará aumento da participação das patrocinadoras. Mas, pelos termos do acordo assinado, Furnas teria uma carência de dois anos no repasse de contribuições e, depois, elevaria o valor de sua participação.

Representantes das 19 entidades que integram o fórum passaram, ontem, o dia explicando que não houve barganha.

Pelo menos uma vez, no ano passado, as mesmas entidades se rebelaram contra a indicação de Eduardo Garcia para diretor de Investimentos, quando seu nome fora associado a interesse do PMDB. Mas, agora, eles garantem que até chegaram a sondar o nome do economista em fevereiro deste ano, na maior crise entre a direção da estatal e os trabalhadores pelo controle do fundo