Título: Carga tributária: um novo padrão
Autor: Beck, Martha; Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 02/11/2009, Economia, p. 16

ARMANDO MONTEIRO NETO

BRASÍLIA. O governo federal terá de reduzir a tributação do setor produtivo de maneira definitiva, afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE). A experiência das desonerações, disse, comprovou que a carga tributária brasileira é muito alta.

Qual a importância das desonerações tributárias para a indústria?

ARMANDO MONTEIRO NETO: A resposta foi imediata, as vendas aumentaram. As desonerações serviram para mostrar que o Brasil tem uma tributação indireta tão forte que os bens de consumo acabam sofrendo um impacto fortíssimo. Isso confirma que o Brasil precisa discutir a carga tributária e revê-la estruturalmente.

O senhor defende novas prorrogações?

MONTEIRO NETO: O governo está sentindo que não dá para voltar com a tributação nos mesmos níveis que existiam antes da crise. O IPI reduzido vai ser compensado, em parte, pelo aumento da arrecadação de PIS/Cofins. O ganho também virá do aumento das vendas, que ampliará a arrecadação.

Mas isso teria impacto sobre as contas públicas, que já estão pressionadas.

MONTEIRO NETO: O Brasil tem uma estrutura de despesa que é mais ou menos rígida. O ideal é cortar despesas. Não sendo possível, que se faça uma tributação mais inteligente para aumentar o mercado.

A indústria reclama que os investimentos ainda não voltaram a crescer. Por quê?

MONTEIRO NETO: Os investimentos se recuperam com o aumento da demanda. O investimento público tem que abrir caminho para o privado, sobretudo na infraestrutura. Mas o investimento público é muito baixo no Brasil: apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB), porque o custeio é alto.

Qual é o impacto do real forte na indústria?

MONTEIRO NETO: Não discordo da criação do IOF para aplicações de estrangeiros no Brasil. O câmbio tem que ser defendido. A moeda não pode retirar a competitividade do setor industrial. O mundo lá fora tem taxas mais baixas do que o Brasil. É o último peru disponível antes do Natal.