Título: Melhorias sociais são sustentáveis
Autor: Almeida, Cássia; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 03/11/2009, Economia, p. 19

Um dos maiores especialistas em pobreza e desigualdade do país, o economista Ricardo Paes e Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), juntase a economistas e cientistas sociais que tentam entender como os indicadores sociais brasileiros, como pobreza, desigualdade e trabalho infantil, estão caindo forte e sistematicamente nos últimos anos: ¿No início dos anos 90, os economistas e cientistas sociais sugeriam mil maneiras de reduzir a desigualdade no Brasil. Bolsa-escola, expansão do ensino médio... E as taxas caíam muito pouco. Hoje a situação é inversa. É tanta queda da pobreza e da desigualdade que não conseguimos explicar¿.

O GLOBO: O que explica essa melhoria nos indicadores sociais? RICARDO PAES E BARROS: Estamos tentando entender como as taxas caem todo ano e com essa vitalidade. São múltiplos fatores, o que torna as melhorias sociais sustentáveis. É como se, a cada ano, descobríssemos novos focos de pobreza e desigualdade a serem combatidos.

l Quais os fatores que atuaram? PAES E BARROS: As transferências de renda e o aumento forte da educação, reduzindo a desigualdade educacional na força de trabalho.

O ganho de renda com o estudo vem caindo. Para que o país fique mais igual, o valor da educação tem que cair, tornando mais acessíveis bens e serviços, diminuindo as diferenças salariais.

O que mais é possível citar? PAES E BARROS: A interiorização da economia, o gasto público indo para o interior do país, as transferências da Previdência Social e do Bolsa Família. A formalização do emprego teve papel importante nos últimos anos.

Como esses avanços são vistos fora do país? PAES E BARROS: Os pesquisadores de fora do Brasil acreditam que o país tem metas de redução de pobreza e desigualdade. A cada ano surgem soluções diferentes para atacar o problema. É um grande avanço para a sociedade brasileira, mostrando vigilância e preocupação contínuas.

Mas o analfabetismo praticamente não caiu em 2008...

PAES E BARROS: Nem tudo funciona bem. É preciso avaliar, mantendo o que deu certo e reformando políticas como a de combate ao analfabetismo. O importante é acelerar o esforço via continuidade.

Falta no Brasil uma política que foi sucesso na Venezuela, país que erradicou o analfabetismo. Lá, existe uma sequência de cursos. Se o adulto não continua os estudos é grande candidato a ser analfabeto de novo.

No semiárido, as pessoas vivem num mundo sem letras. Como vai manter o conhecimento que adquiriu precariamente? Como isso poderia ser feito? PAES E BARROS: Criando cursos de transição para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Dentro do Bolsa Família, dar um adicional para o adulto que conseguisse ingressar na EJA. Não se fala tanto de portas de saída? É comprovado que a entrada na EJA tem impacto enorme na renda. (C.A.)