Título: Congresso protela votação sobre Zelaya
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Fonte: O Globo, 03/11/2009, O Mundo, p. 26

Presidente do Legislativo de Honduras afirma que não há prazo para debater restituição

TEGUCIGALPA. Enquanto candidatos às eleições presidenciais tomavam as ruas de Tegucigalpa, deputados aliados de Manuel Zelaya intensificaram a pressão para que o Congresso hondurenho convoque uma sessão extraordinária para debater o mais breve possível a restituição do presidente deposto, ameaçando iniciar uma greve de fome. O governo interino, no entanto, resiste à medida, principal ponto do acordo para pôr fim à crise política no país. Ontem, o presidente do Congresso, José Alfredo Saavedra, disse apenas ter recebido os termos do acordo, mas ressaltou não haver data prevista para o debate.

Como parte do acordo, ontem era esperada a chegada dos representantes da Organização dos Estados Americanos (OEA) na Comissão de Verificação, que acompanhará a implantação do acordo: o ex-presidente chileno Ricardo Lagos e a secretária do Trabalho dos EUA, Hilda Solis.

Além deles, participam da comissão os hondurenhos Arturo Corrales, pelo lado de Micheletti, e o embaixador de Honduras na ONU, Jorge Arturo Reina, representando Zelaya.

Sob pressão dos EUA, negociadores de Zelaya e do governo Roberto Micheletti, que assumiu após a destituição, chegaram a um acordo sexta-feira, deixando para o Congresso a decisão sobre a volta do presidente deposto ao poder. Zelaya afirma que, pelo acordo, deve voltar ao cargo no máximo na quinta-feira. Já o governo interino diz que o acordo prevê prazo apenas para a formação do governo de conciliação nacional, sem mencionar se Zelaya faria parte dele ou a data para votar a restituição.

Ontem, simpatizantes de Zelaya foram às ruas como forma de pressão, enquanto candidatos pareciam dar finalmente o impulso final à campanha para as eleições de 29 de novembro.

EUA suspendem proibição de vistos a hondurenhos Víctor Cubas, deputado da corrente do Partido Liberal que apoia Zelaya, disse que os deputados estão dispostos a iniciar hoje à tarde uma greve de fome se o debate no Congresso não for convocado. A questão é que o Congresso está em recesso.

Caso os legisladores não sejam convocados, os deputados zelayistas ameaçam marcar a sessão extraordinária recorrendo ao regulamento legislativo.

Zelaya pediu ontem que o Congresso aja com responsabilidade e ¿sem jogos sujos¿ Numa primeira consequência do acordo, o Consulado dos EUA voltou ontem a atender pedidos de vistos de Hondurenhos.

O serviço havia sido suspenso em 26 de agosto, como parte das sanções contra a deposição de Zelaya, em junho.

Ontem, o embaixador americano em Honduras, Hugo Llorens, negou que o secretário adjunto de Estado para o Continente Americano, Thomas Shannon, tenha se reunido separadamente com o principal candidato às eleições presidenciais, Porfirio ¿Pepe¿ Lobo, para negociar o respaldo do Partido Nacional a Zelaya.

Llorens negou ainda que os EUA tenham obrigado Zelaya a assinar o acordo, em troca de não levar o filho Héctor a julgamento por tráfico de drogas.

As duas informações haviam sido publicadas pelos jornais espanhóis ¿El País¿ e ¿La Vanguardia¿.

¿ As informações são invenções maliciosas e nada têm a ver com a verdade ¿ disse Llorens à imprensa hondurenha.

Shannon visitou o país na semana passada, conseguindo que as duas partes assinassem o acordo, após quatro meses de crise.