Título: Revolta com o cotão
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2009, Política, p. 8

Causou revolta entre deputados a decisão da Mesa Diretora da Câmara de concentrar em apenas uma cota as verbas utilizadas pelos deputados. O único elogio é o recuo para liberar as viagens internacionais com dinheiro público. A criação da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar é consenso entre os integrantes da cúpula da Casa, mas no restante é vista com ceticismo.

Os argumentos vão desde aumento no gasto público até reclamação com a obrigatoriedade de divulgar tudo na internet. O ¿cotão¿ reúne 12 rubricas, entre elas passagens aéreas, telefone, serviços postais, manutenção de escritório, alimentação, hospedagem e aluguel de jatinho. Os valores variam de estado para estado. O menor, de R$ 23,03 mil mensais, é destinado aos deputados do Distrito Federal. O maior (R$ 34,25 mil) é para os representantes de Roraima. ¿Separada era melhor. Nós poderíamos especificar como cada um gasta e com o quê. Pela regra anterior, você conseguia direcionar e identificar¿, afirmou o ex-líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR).

A união das despesas indenizáveis foi a solução encontrada pelos deputados para combater a onda de notícias negativas que atingiram a Casa nos últimos meses. Mas o deputado Mário Heringer (PDT-MG) acredita que a solução não é ideal. ¿Esse troço tinha que ficar do jeito que estava¿, afirmou o pedetista. Para ele, o aumento da verba vai estimular a gastança na Câmara. ¿Na verdade, essa facilidade de usar pode favorecer até o sujeito que antes economizava. Como ele vai ter o dinheiro lá para ser ressarcido, ele pode escolher fretar um avião em vez de viajar de carro. Vamos ter dor de cabeça com isso¿, disse Heringer, que é ouvidor da Câmara.

Para o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), a união das verbas não resolve o problema dos gastos. ¿A ordem dos fatores não altera o produto, junta ou separada a despesa já está estabelecida¿, afirmou. A solução, na visão do tucano, é fazer o deputado pagar Imposto de Renda em todas as despesas. ¿Isso dá transparência e evita a utilização indevida do dinheiro¿, afirmou o parlamentar pelo Paraná.

Ex-integrante da Mesa Diretora, Ciro Nogueira (PP-PI) elogiou a decisão tomada pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP), ao acatar sugestão formulada pelo primeiro-secretário, Rafael Guerra (PSDB-MG). ¿A verba tem que ser usada com mais responsabilidade, tem que assumir o ônus da divulgação. Todos os dados têm que ir para internet¿, disse Nogueira. O deputado do PDT de Minas Gerais acredita que o problema da Câmara não são as passagens ao exterior. Ele entende, inclusive, que não deveria caber à Terceira Secretaria decidir qual viagem pode ser feita. ¿O deputado não deveria pedir autorização. Deveria ser livre. O problema não é para onde o deputado vai, é quem ele leva¿, afirmou. O terceiro-secretário, Odair Cunha (PT-MG), negou que a decisão de permitir viagens internacionais seja um recuo da Mesa. ¿Não houve recuo. Não houve pressão. Fomos cautelosos e resolvemos esperar estudos e avaliações dos técnicos da Casa para fechar questão. É preciso que fique claro que não estamos liberando geral. Existem critérios¿, disse.