Título: A indústria não para
Autor: Novo, Aguinaldo; D¿Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 06/11/2009, Economia, p. 19

Com alta nas encomendas, empresas planejam suspender ou reduzir férias coletivas

SÃO PAULO O reaquecimento da economia já leva setores da indústria a planejar a suspensão ou, pelo menos, a redução das tradicionais férias coletivas dos empregados no fim do ano. Além do ritmo forte da demanda em segmentos como o de linha branca (fogões, geladeiras e lavadoras), embalado pela manutenção da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), as empresas convivem com a necessidade de recompor estoques, muito consumidos na primeira metade do ano ¿ no último trimestre de 2008 e primeiro deste ano a produção caiu drasticamente devido ao agravamento da crise financeira global, a partir de setembro de 2008. Ou seja, uma situação oposta à vivida pelas empresas no fim do ano passado.

¿ A sinalização de empresas nos mais diversos setores é de que não vão ter trégua neste fim de ano ¿ disse Ricardo Martins, diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). ¿ No fim de 2008 não tinha serviço (nas linhas de produção) e este ano vai ser o oposto.

Martins cita o caso da sua própria empresa, uma metalúrgica de São Paulo que fornece peças para a indústria de móveis.

¿ O problema é que essa retomada nos pegou a todos desabastecidos de estoques ¿ disse.

As indústrias do ramo eletroeletrônico vão definir nos próximos dias o esquema das férias coletivas de fim de ano. Se depender do desejo inicial dos empresários, as linhas de produção não vão ficar paradas por muito tempo.

¿ As férias coletivas vão durar menos do que estava programado, porque o ritmo de vendas está forte. É um ponto quase pacífico ¿ afirmou o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula. ¿ As encomendas de Natal devem ser entregues até meados de dezembro. Mas a previsão é que as vendas se mantenham fortes em janeiro também, o que certamente vai obrigar muitas empresas a manter o ritmo de sua produção ¿ acrescentou Kiçula.

A indústria foi o setor da economia brasileira que mais sofreu os impactos da crise. As vendas tiveram uma queda brusca por causa do aperto geral no crédito registrado logo após a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em setembro.

Algumas empresas, como as do setor automobilístico, chegaram a entrar em férias coletivas em novembro de 2008. E a tradicional parada de fim de ano, geralmente de até duas semanas, chegou a durar mais de 40 dias.

No início do ano, vieram os acordos de redução de jornada e as licenças remuneradas, pelas quais os trabalhadores ficavam em casa recebendo por não haver o que fazer na fábrica. Foi a alternativa negociada pelos sindicatos para evitar novas demissões.

Vendas sobem 1,3% em outubro com IPI

No segmento de eletroeletrônicos, no fim do ano passado, houve corte de produção e demissões em massa. Agora, a estimativa do setor é fechar 2009 com alta de 20% nas vendas, o dobro do obtido em 2008. A virada veio a partir de abril, com o benefício do IPI.

No último dia 29, depois de muita pressão por parte da indústria e do varejo, foi anunciada a prorrogação do IPI reduzido (que acabaria em outubro) para produtos da linha branca, mas o benefício valerá para eletrodomésticos que consomem menos energia.

Foi justamente a proximidade do fim inicialmente previsto do IPI reduzido para os produtos de linha branca que puxaram as vendas do comércio em outubro. De acordo com levantamento divulgado ontem pela Serasa Experian, as vendas no varejo tiveram alta de 1,3% no mês passado, frente a setembro. Esse resultado foi puxado pela atividade no segmento de Móveis, Eletroeletrônicos e Informática, que avançou 1,1% em outubro, já considerando a série histórica com ajuste sazonal. Na comparação anual, outubro apresentou variação de 7,1% sobre o mesmo mês de 2008, a maior taxa desde dezembro de 2008 (que havia sido de 7,5% contra dezembro de 2007).

CNI: faturamento e emprego cresceram

Os sinais de recuperação também aparecem em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI): no mês passado, o faturamento real da indústria cresceu 1% (índice dessazonalizado) frente a agosto, fechando o terceiro trimestre com expansão de 2,1% sobre os três meses anteriores. O desempenho de setembro, no entanto, comparado com o mesmo mês de 2008, ainda apresenta forte queda, de 4,7%.

O nível de emprego na indústria também cresceu em setembro, 0,2%, segundo mês seguido de recuperação.

Já o uso da capacidade instalada recuou 0,4 ponto percentual em setembro, comparado com agosto, para 79,8% (também número dessazonalizado).

Para Castelo Branco, essa queda deveu-se à acomodação do indicador ¿ que cresceu nos dois meses anteriores ¿ após a maturação de investimentos feitos pelas empresas.

¿ Já estamos vendo uma retomada dos investimentos em alguns setores, sobretudo voltados para o mercado doméstico ¿ afirmou o gerente de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.