Título: Erro no processamento de dados faz IBGE recalcular o censo agropecuário
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 06/11/2009, Economia, p. 23

Desigualdade tinha aumentado em 10 anos, mas na verdade ficou estável

Ao contrário do que foi amplamente divulgado no último dia 30 de setembro, a desigualdade no campo brasileiro não se agravou nos últimos 10 anos, como mostrava o Censo Agropecuário do IBGE. A taxa, na verdade, ficou estável. A pesquisa, que levantou dados de 5 milhões de fazendas em todo o Brasil entre 1996 e 2006, mostrava que o índice de Gini não subiu de 0,856 para 0,872.

Pelo novo cálculo, o índice ficou em 0,854, estável.

A falha foi detectada pelo professor da Unicamp Rodolfo Hoffmann, um dos maiores especialistas em desigualdade, principalmente na distribuição da terra. Ele calculou o Índice com base na distribuição da área total por faixa de tamanho do estabelecimento.

¿ Fiz uma estimativa e o Gini ficaria entre 0,85 e 0,86.

Não chegaria a 0,87 ¿ disse.

Alertados por Hoffmann, os técnicos do IBGE recalcularam os dados e divulgaram ontem o novo número.

Antonio Florido, gerente do Censo do IBGE, confirmou o alerta do pesquisador da Unicamp e disse que houve um problema no processamento dos dados que levou à divulgação do índice errado.

¿ Houve algum problema no processamento dos dados.

Mas os números dos estados estão corretos.

Segundo Hoffman, a desigualdade na distribuição da posse da terra no Brasil é de uma estabilidade até difícil de explicar. Em 1975, o índice fora de 0,855. Mais de 30 anos depois, o Gini está em 0,854.

¿ Tudo indica que essa estabilidade com elevada desigualdade é muito mais antiga, pois eventos importantes na história do país, como a abolição da escravidão e a proclamação da República, não foram acompanhadas por nenhuma alteração importante na distribuição da riqueza

Agropecuária empregava 16,5 milhões em 2006 O professor lembra que, mesmo com a crise de 1929, quando fazendas falidas de café foram divididas, ¿não se chegou a afetar substancialmente a distribuição da posse da terra nesse imenso país¿.

¿ É até curioso notar como é difícil explicar a ausência de mudança. É mais usual o pesquisador tentar explicar as mudanças ¿ diz Hoffmann.

As fazendas com até dez hectares representam apenas 2,7% da área total desde 1985.

Enquanto as com mais de mil hectares concentram mais de 43% da área. O Censo Agropecuário mostrou que o campo empregava 16,5 milhões de pessoas. Em dez anos, deixaram de trabalhar nas lavouras 1,363 milhão de pessoas.

Em 2006, correspondiam a 18,9% da população ocupada do país em 2006. O Censo também constatou a baixa escolaridade no campo.

Quase a metade da população( 42%) não completou o ensino fundamental.