Título: Aposentados: Lula deve negociar com centrais
Autor: Jungblut, Cristiane; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 07/11/2009, O País, p. 10

Após manobra para não votar reajuste, governo quer evitar desgaste com trabalhadores em ano pré-eleitoral

BRASÍLIA. Depois do desgaste experimentado com a tática de impedir a votação, na Câmara, do projeto que previa a extensão do reajuste dado ao salário mínimo a todas as faixas de benefícios do INSS, o governo corre contra o tempo para fechar um acordo antes de quarta-feira, quando as principais centrais do país estarão em Brasília para a 6aMarcha da Classe Trabalhadora.

O presidente Lula deverá negociar pessoalmente com as centrais, para evitar que o assunto fique em pauta no ano eleitoral de 2010.

Ontem, três ministros e líderes governistas se reuniram para encontrar uma saída política, já que um acordo fechado em agosto ¿ prevendo um reajuste de 6% em 2010 para aqueles que ganham benefícios acima do salário mínimo ¿ nunca foi oficializado.

A ideia é formalizar a proposta na próxima semana, como O GLOBO antecipou na terça-feira.

Mesmo as centrais sindicais que apoiaram o acordo cobram o aval direto de Lula e já pressionam por novos avanços.

Lula deverá se reunir com ministros e aliados na segunda-feira, em São Paulo. A intenção era convidar CUT e Força Sindical, que chancelaram o acordo, mas a Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (Cobap) ficou contra a proposta.

O acordo prevê que, em 2010, quem recebe acima do piso previdenciário ganharia 6% de reajuste, contra 9% para os que ganham o equivalente ao mínimo.

Lula comandaria a reunião de ontem, mas seu desembarque em Brasília, vindo de Londres, atrasou e ele cancelou a participação.

A reunião aconteceu, mas não houve acordo sobre qual a melhor estratégia para tratar de tema tão delicado às vésperas do ano eleitoral.

Parte dos presentes quer ¿enrolar¿ o assunto até depois das eleições, não votando qualquer proposta no Congresso. Por essa lógica, Lula editaria medida provisória, como tem feito todos os anos, concedendo o reajuste do mínimo e o reajuste diferenciado para os aposentados que ganham acima do piso.

Mas outra ala, incluindo integrantes do Planalto, argumenta que será impossível evitar o assunto e teme que os parlamentares aprovem uma proposta inviável às vésperas da eleição, obrigando Lula a vetá-la.

¿ A determinação é construir um acordo com as centrais sindicais ¿ disse o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que também participou da reunião.

Mas a decisão do governo já está tomada e a intenção é jogar pesado: ou aceita-se o acordo, ou os aposentados podem ficar sem nada.

Segundo a Previdência, 8,2 milhões de aposentados ganham acima do piso. Pelo acordo de agosto, esse contingente receberia em janeiro de 2010 um reajuste levando em conta a correção da inflação, medida pelo INPC, mais 50% do PIB verificado em 2008, totalizando cerca de 6,1% de reajuste, ou um ganho real de 2,5%. O custo desse reajuste diferenciado seria de R$ 3 bilhões em 2010, contra R$ 6,9 bilhões da extensão do reajuste do mínimo a todos os benefícios, como prevê o projeto que tramita na Câmara.

O relator-geral do Orçamento de 2010, deputado Geraldo Magela (PT-DF), já reserva entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões para bancar essa despesa. Cada ponto percentual de reajuste acima da inflação significa gasto adicional de R$ 1,2 bilhão. A proposta do governo adota o mecanismo de reajuste do mínimo: a inflação mais o PIB (cheio) de dois anos anteriores