Título: Assédio com jantares e degustações de vinho
Autor: Otavio, Chico; Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 08/11/2009, O País, p. 13

Em 2005, juíza denunciou empresário por tentar corrompê-la no caso do Opportunity

Certa vez, durante uma degustação de vinhos da Califórnia oferecida por Eduardo Raschkovsky, um desembargador duvidou da qualidade da produção americana. Em vez de responder, o anfitrião chamou um funcionário e lhe deu uma ordem. Instantes depois, a taça do magistrado era enchida por um dos mais caros vinhos californianos, trazido às pressas.

¿ Nunca bebi um vinho tão bom ¿ confessa hoje o desembargador.

Desde que se aproximou da magistratura, levado por sua mulher, a advogada Mônica, e pelo sogro, o desembargador aposentado Antônio Lindbergh Montenegro, Eduardo não mede esforços para impressionar os amigos de toga. Na segunda metade dos anos 1990, vendo os negócios imobiliários naufragarem, adotou a estratégia de atrair juízes e desembargadores com almoços, jantares e encontros de degustação de vinhos nobres para se estabelecer no meio jurídico como alguém capaz de influenciar decisões.

Nos corredores dos tribunais, muitos acham que Eduardo é advogado .

Além do gosto por vinhos caros, ele impressiona por andar com seguranças, gostar de gravar as conversas e usar celulares pré-pagos, mudando cons tantemente os números.

Outro hábito apreciado era lutar jiu-jítsu, mas um problema na coluna cervical o obrigou a se afastar dos tatames.

Ele cursa o nono período de Direito da Universidade Candido Mendes de Ipanema.

Eduardo saiu pela primeira vez das sombras em 2005, quando foi acusado pela juíza Márcia Cunha, então titular da 2aVara Empresarial do Rio, de tentar corrompê-la em nome do Opportunity. Ele teria oferecido uma remuneração fixa ao marido da juíza, a título de consultoria, para trabalhar para o banco. A juíza dera uma decisão liminar que permitira aos fundos de pensão retirar das mãos do grupo de Daniel Dantas o controle da Brasil Telecom.

Agenda de computador entregue pela auditoria contratada pelos novos gestores da Brasil Telecom registrou 16 reuniões de Eduardo com Humberto Braz, na época presidente da Brasil Telecom. Os encontros ocorreram entre 6 fevereiro de 2004, data da primeira reunião registrada na agenda de Braz, e 20 de outubro do mesmo ano. Braz foi preso em São Paulo na Operação Satiagraha, que investigou a movimentação financeira de Daniel Dantas.

Eduardo figura como sócio em dez empresas, sendo responsável por metade delas.

Uma é a Rivertec Informática, que chegou a ser investigada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal por evasão de divisas. Depois de ser excluído das investigações, Eduardo rompeu com os três sócios na River tec: Orlando Barbieri, Henry Hoyer de Carvalho e Ronaldo Machado.

Também foram seus sócios na em presa o ex-senador Ney Suassuna; seu filho, Rodrigo Suassuna; e Bruno Messer, sobrinho do doleiro Dario Messer, além do deputado José Wellington Rodrigues (PTB-PB), e de Selma Katz, irmã do doleiro carioca Benjamin Katz. A empresa, considerada de fachada pelos investigadores, funcionava em Três Rios, Estado do Rio.

Seu primeiro cargo foi na empresa de cobranças Unidos Participações, na Rua Bom Pastor, na Tijuca, que mais tarde herdaria dos pais. Ela chegou a ter três mil funcionários e capital de US$ 100 milhões, mas hoje está praticamente fechada.

A sede, um prédio de oito andares, de vidro fumê, está suja e abandonada. Na fachada, uma placa anuncia: ¿Vende-se ou aluga-se¿.