Título: Sob pressão, Uniban recua da decisão de expulsar aluna que usou minissaia
Autor: Guandeline, Leonardo; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 10/11/2009, O País, p. 4

MEC cobrou explicações, MP e polícia abriram investigação sobre o caso

SÃO PAULO. Sob forte pressão, a Uniban (Universidade Bandeirante), de São Paulo, voltou atrás ontem e anulou a expulsão da estudante de Turismo Geisy Villa Nova Arruda, de 20 anos. A instituição enviou à imprensa uma pequena nota comunicando a revogação da punição. A expulsão tinha sido anunciada sábado e provocado forte reação do Ministério da Educação, que ontem deu dez dias para a Uniban se explicar, da Secretaria de Políticas para Mulheres, do Ministério Público Federal, que instaurou inquérito policial para apurar o caso, e de entidades como a UNE, que ontem organizou um protesto contra a expulsão, na porta da universidade.

A Uniban anunciou o recuo enquanto centenas de estudantes convocados pela UNE se manifestavam contra a direção da universidade, diante do campus de São Bernardo do Campo, onde, em outubro, Geisy foi hostilizada e xingada pelos colegas por usar um minivestido. Apesar de toda a polêmica, alunos da Uniban se aproximaram dos manifestantes para, mais uma vez, hostilizar Geisy e o grupo.

Especialistas em educação também criticaram a universidade.

Parlamentares afirmaram que o assunto deveria ser debatido na Comissão de Educação da Câmara. O advogado de Geisy, Nehemias Melo, chegou a anunciar que pediria uma liminar na Justiça para garantir o retorno da estudante às aulas. Ele chamou a sindicância que resultou na expulsão de ¿tribunal de exceção, nazifascita¿, e disse que a universidade fez até perguntas sobre a vida íntima de Geisy: ¿ Durante mais de 3 horas, quiseram saber com quem ela já teve relações, como ela se vestia, etc. Que educação uma universidade que expulsa uma aluna pelo jeito de ela se vestir, e permite que fiquem impunes outros 700 alunos, dá aos jovens? A nota enviada à imprensa pela Uniban para anular a expulsão apenas afirma que o reitor, Heitor Pinto Filho, com base no regimento interno da universidade, ¿revoga a decisão do Conselho Universitário proferida no último dia 6 sobre o episódio de 22 de outubro, em seu campus em São Bernardo do Campo. Com isso, o reitor dará melhor encaminhamento à decisão.¿ A direção da Uniban informou que só hoje, em entrevista, esclarecerá o episódio.

O Ministério Público Federal instaurou um inquérito para apurar a expulsão e informou que o recuo da universidade também será investigado. O procurador regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, Jefferson Aparecido Dias, que conduzirá as investigações, considerou preocupante a postura da Uniban. Segundo ele, Geisy não teve assegurado o seu direito à defesa, e a decisão de expulsar a aluna não foi precedida do devido processo legal.

¿O que se espera de uma universidade é que ela tenha condições de formar cidadãos. No presente caso, é bastante preocupante a postura da Uniban, que pode indicar que ela não está preocupada com essa formação integral¿, afirmou o procurador, em nota.

Em entrevista, Geisy chorou e disse que pretende estudar em outra universidade em 2010, mas que este ano quer concluir o ano letivo na Uniban, para não perder o investimento que a família fez em seus estudos.

¿ No dia 22, eu me senti culpada, um lixo. E senti isso justamente porque a faculdade me colocou naquela situação, de achar que eu era a culpada de toda aquela manifestação.

Na verdade, senti muito medo.

Fui a vítima ¿ disse Geisy, acrescentando que terá acompanhamento psicológico.

A estudante disse que não vai mudar por causa do episódio.

¿ Não pretendo mudar o jeito de ser e de me vestir.

Na polícia, os advogados de Geisy denunciaram sete crimes que teriam sido cometidos contra a jovem: difamação, injúria, ameaça, constrangimento, cárcere privado (ela chegou a ser trancada na sala, segundo os advogados), incitação ao crime, atos obscenos por parte dos alunos que a hostilizaram, além de ilícitos contra a dignidade da estudante.

O Procon também já havia anunciado que investigaria o caso, pois houve quebra de contrato de prestação de serviços educacionais. O Ministério da Educação deu dez dias para que a Uniban explique as razões que levaram à expulsão.

No Congresso, os parlamentares querem que a Comissão de Educação faça um debate sobre a expulsão da jovem.