Título: Peres propõe diálogo direto com Síria
Autor: Vasconcelos, Adriana; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 11/11/2009, O Mundo, p. 31

Visita ao Brasil é resposta à vinda de Ahmadinejad marcada para este mês

PERES cumprimenta Marina Silva no Congresso, observado por Sarney

BRASÍLIA. No primeiro dia de visita ao Brasil, o presidente de Israel, Shimon Peres, aproveitou ontem um discurso no Congresso Nacional para propor a abertura imediata de uma negociação direta, "sem condições ou adiamentos", com o presidente da Síria, Bashar al-Assad. E ao reconhecer o direito dos palestinos de terem um território, Peres anunciou que Israel está pronto para "fazer concessões difíceis" se o diálogo com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, tiver continuidade. A visita, a primeira de um presidente de Israel ao Brasil em 40 anos, foi motivada pela vinda ao país do presidente iraniano e inimigo de Israel, Mahmoud Ahmadinejad, em duas semanas.

- Não atacamos ninguém, nem invadimos nenhum outro país. Apenas nos defendemos. E quando nos defendemos, ganhamos. Mas não deixamos de procurar a paz. Nós achamos que a conquista da paz é mais importante que a conquista de territórios. Não queremos derramamento de sangue. Por isso, vamos entrar numa negociação direta, sem condições ou adiamentos, com o presidente Assad, assim como começamos com os palestinos - propôs.

Críticas abertas ao presidente do Irã

Peres lamentou, contudo, que a Faixa de Gaza tenha se transformado, segundo ele, num campo de guerra pelo grupo radical Hamas, que estaria dificultando as negociações de paz com as autoridades palestinas.

- Israel reconhece o direito dos palestinos de terem um território e está pronto para fazer concessões difíceis. Tão difíceis quanto reconheço que são também para o presidente Abbas - acrescentou.

A duas semanas da chegada ao Brasil do presidente iraniano, Peres não escondeu suas divergências com o governo de Mahmoud Ahmadinejad.

- Não quero discutir aqui com o presidente do Irã, mas sua política é um perigo mundial. Sempre convivemos bem com os iranianos. Não há necessidade de que sejamos inimigos. Mas não posso ignorar que o governo de Ahmadinejad está fazendo armas nucleares e prega a destruição de Israel.

Shimon Peres elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem se referiu como "um grande líder". O presidente israelense falou da capacidade do Brasil de conviver com as diferenças, da "esplendorosa beleza" do Rio, da arquitetura de Brasília e da pujança da economia de São Paulo. Também citou a Bossa Nova e o samba.

- Na minha infância, o Brasil era um sonho. Hoje é uma realidade fascinante... Eu vim para ver e aprender - observou.

Casa Branca recebe Netanyahu sem fotos

Com o aval dos EUA, Lula deve defender o não isolamento do Irã em encontro hoje com o presidente de Israel. Na visão do governo brasileiro, em vez de brigar pelo fim da política nuclear iraniana, os israelenses deveriam lutar por um acordo entre Teerã e as grandes potências.

O embaixador do Irã, Mohsen Shaterzadeh, rebateu ontem as críticas de Peres sobre a visita de Ahmadinejad. Peres disse em entrevista aos jornais brasileiros, no fim de semana, que seria um erro Brasília receber Ahmadinejad. Para o embaixador, não é Israel que deve determinar a política externa brasileira:

- Hoje, o Brasil é um país forte, independente, e, certamente, essa independência não dá permissão a intervenção de outros países - disse.

Anteontem, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi recebido na Casa Branca pelo presidente Barack Obama em meio às divergências entre os dois países aliados sobre a tentativa americana de relançar o processo de paz no Oriente Médio. Num gesto pouco comum e interpretado como sinal de frieza na recepção, a Casa Branca não organizou cobertura especial, nem divulgou foto oficial do encontro.

COLABOROU: Jailton de Carvalho, com agências internacionais