Título: Depois da crise, Senado adia obras de cela e túnel
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 16/11/2009, O País, p. 3

Entre os projetos previstos pelos senadores estão praça de alimentação e reforma completa do plenário

BRASÍLIA. Depois da crise que atingiu a instituição este ano, o Senado optou por adiar todas as obras em curso na Casa. Entre elas está a polêmica proposta de construção de um túnel linear com diâmetro mínimo de dois metros e extensão de 35 metros, que ligaria o Senado ao Palácio do Planalto. O edital da concorrência foi lançado em novembro do ano passado e o custo inicial estimado era de R$2,7 milhões. Na lista de obras adiadas está ainda uma cela que começou a ser erguida para abrigar pessoas eventualmente detidas pela Polícia Legislativa. Até mesmo uma reforma emergencial do plenário, que deveria ser iniciada no recesso parlamentar de janeiro, acabou adiada e está sem data para acontecer.

- Não vou fazer nenhuma obra sem licitação. Por isso, a reforma do plenário também não será realizada agora - informou o 1º secretário, senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

Orçada em R$5 milhões, a reforma do plenário foi recomendada pela equipe de engenharia do Senado. A Mesa Diretora aprovou a obra depois de assistir a slides comprovando as precárias e perigosas condições das instalações elétricas e do ar-condicionado, com dutos apodrecidos e feito ainda com material cancerígeno. Foram constatadas até mesmo gambiarras elétricas para atender às demandas das TVs, que estariam colocando a Casa sob o risco de incêndio. Outro problema detectado são as placas de metais presas no teto, que fazem parte da decoração do plenário e que correriam o risco de cair.

Escada secreta usada por Agaciel Maia foi derrubada

Tudo indica que permanecerá também engavetado um estudo encomendado pela Diretoria Geral do Senado ao Departamento de Engenharia para a construção de uma espécie de praça de alimentação para atender os dez mil servidores da instituição. A proposta preliminar previa a construção de uma área de cerca de 800 metros quadrados a custo estimado de R$1,5 milhão, que abrigaria dois restaurantes do tipo fast-food e uma lanchonete. A praça seria instalada num dos estacionamentos do Senado, próximo ao serviço médico, onde funciona atualmente uma lanchonete.

A única obra este ano que foi levada adiante foi a que derrubou uma escada construída no Anexo I. Ela servia de saída secreta do gabinete do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, afastado em março deste ano depois de 14 anos no cargo. A escada, descoberta apenas após a demissão de Agaciel, dava acesso a uma sala onde foram encontrados um sofá, um telão e um DVD. Era lá que Agaciel costumava se refugiar quando não queria ser encontrado. O ex-diretor responde atualmente a inquérito administrativo por ter sido identificado como um dos responsáveis pelos mais de mil atos secretos editados pela Casa nos últimos dez anos.