Título: A indústria é a saída para a crise
Autor: Monteiro Neto, Armando
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2009, Opinião, p. 27

Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

A indústria é solução para a saída da crise no Brasil. As medidas emergenciais tomadas pelo governo para minorar seus efeitos e viabilizar a superação das dificuldades em curto prazo foram corretas e indispensáveis. Sem elas, nossa situação poderia estar bem mais difícil. Mas a retomada do crescimento sustentado, sob a liderança do setor empresarial, exige mais e não pode prescindir de soluções estruturantes e com perspectiva de longo prazo.

A experiência mostra que o setor industrial é pró-cíclico. O PIB brasileiro cresce de forma mais rápida ¿ e com melhor qualidade ¿ quando a indústria também cresce. A indústria retomando seu fôlego irá demandar insumos e serviços dos demais segmentos produtivos, gerar empregos e renda, transmitindo seus efeitos multiplicadores para toda a economia. Em suma, o Brasil não avança sem uma indústria em expansão.

Fizemos à exaustão debates sobre quão profundos e severos são os efeitos da crise global. Sabemos que, se há sinais de arrefecimento do processo, há também a certeza de que conviveremos ainda por expressivo tempo com seus impactos negativos. Tudo aponta para um crescimento do PIB, em 2009, em torno de zero. O PIB da indústria deverá registrar queda de 2,8%, confirmando que o setor foi o mais atingido pela crise global. Considerando a indústria de transformação dos BRICs e até mesmo a dos países desenvolvidos, a brasileira foi a mais impactada.

Foram dois os canais principais de transmissão dos efeitos da crise no parque industrial: a forte contração do crédito e a redução da demanda externa. Tal redução é a variável determinante na duração do processo recessivo e a de mais difícil superação, pois depende de condições exógenas à nossa economia. Do ponto de vista estrutural, é a questão que mais nos demanda ações em uma perspectiva de longo prazo. Superá-la exige mais investimentos e estratégias exportadoras.

Se a crise e seu diagnóstico já foram bem dissecados, devemos agora nos deter na definição da estratégia e da seleção dos meios adequados para fazer a indústria voltar a crescer de forma acelerada. Nosso olhar se detém na agenda do que deixamos de fazer: as ações estruturantes. Ponto crucial nessa agenda é dar prioridade e sentido de urgência à reforma tributária ¿ com a busca da redução de carga e simplificação da burocracia, e com foco na desoneração dos investimentos e das exportações. É necessário também retomar o debate sobre as reformas previdenciária e trabalhista, considerando, nesta última, a redução dos encargos para contratação.

Várias dessas reformas dependem de mudanças constitucionais e o país tem pressa. Se tivermos que fazer atalhos, que o façamos. Aqui sobressaem os estímulos ao investimento e às exportações como prioridades. É absolutamente essencial desmontar a engrenagem anticrescimento do tratamento fiscal que o Brasil concede aos investimentos e às exportações.

É imprescindível completar o ciclo de desoneração do investimento, variável fundamental para a construção do caminho da recuperação. A razão é clara. O investimento produtivo gera riquezas, emprego e renda para todos, inclusive para o poder público ao ampliar a base tributária. É inaceitável a continuidade dessa anomalia de taxar investimentos. Os investidores estrangeiros, justificadamente, não compreendem porque isso se perpetua.

Também sabemos que, em horizonte próximo, não veremos o comércio mundial retomar o dinamismo dos últimos anos. A competição estará mais acirrada ainda no período pós-crise. A forma de enfrentar essa situação é aumentar a competitividade de nossos produtos por meio da uma efetiva desoneração tributária das exportações. É preciso assegurar de imediato o pleno uso dos créditos relativos à aquisição de bens de investimento, tanto no âmbito federal (PIS-Cofins) quanto no estadual (ICMS).

Para finalizar, um alerta. Uma preocupação retorna ao horizonte. A taxa de câmbio voltou a mostrar apreciação contínua e já nos aproximamos do patamar de dois reais por dólar. A valorização do real dos últimos anos solapou a competitividade de diversos segmentos industriais e reduziu nossa capacidade exportadora. A mudança no patamar do câmbio pós-crise vislumbrou uma retomada de melhores condições de competitividade. Assim, evitar a revalorização da moeda brasileira é uma das condições, ao lado da desoneração tributária, para a recuperação do poder competitivo dos produtos industriais brasileiros. Nessas circunstâncias, a saída da crise será mais promissora e o crescimento mais intenso.

A experiência brasileira ¿ e a dos demais emergentes ¿ mostra que a indústria é estratégica para alavancar crescimento e promover a necessária transformação estrutural. Precisamos criar as condições para o retorno do ciclo virtuoso de antes da crise, com a expansão da indústria liderando um vigoroso crescimento do PIB.