Título: Zelaya quer impugnar eleição presidencial
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Fonte: O Globo, 16/11/2009, O Mundo, p. 20

Presidente deposto escreve a Obama desistindo do acordo para voltar ao poder e criticando posição dos EUA

TEGUCIGALPA. O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse sábado que se recusará a reassumir a Presidência como parte de qualquer acordo para pôr fim à crise desencadeada por seu afastamento. Para ele, qualquer acerto nesse sentido é uma forma de encobrir ou legitimar o golpe de junho. Em entrevista à BBC, Zelaya acusou a Casa Branca de ter mudado de posição quanto à crise hondurenha e de tê-lo deixado "no meio do rio". Além disso, está pedindo à comunidade internacional que não reconheça o resultado das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro.

- Desta data em diante, reafirmo minha decisão de não aceitar qualquer acordo para retornar à Presidência, o que acobertaria esse golpe - disse ele, na Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa, onde está refugiado desde 21 de setembro, lendo trechos de uma carta escrita ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Zelaya afirmou ainda que, caso haja eleições, ele pretende impugnar os resultados.

- Continuarei a contestar legalmente, em nome de milhares de hondurenhos e centenas de candidatos que acham que esta competição é desigual - disse.

Inicialmente, Zelaya havia recebido bem o acordo, que, ele mesmo confirmara, tinha o objetivo de conduzi-lo de volta ao poder. Mediado pelos Estados Unidos para pôr fim ao impasse político no país, o pacto foi acertado no último dia 29, entre as comissões do presidente em exercício, Roberto Micheletti, e de Zelaya. Apesar das negociações, o governo interino faz sempre questão de lembrar que o regresso de Zelaya ao poder não é um fator determinante para o acordo.

Líderes sul-americanos vêm pedindo a volta de Zelaya à Presidência, mas Washington pareceu enfraquecer a posição dele ao dizer que reconheceria uma eleição presidencial em 29 de novembro, simplesmente com base na assinatura do acordo. Por isso, o presidente deposto reclamou na carta a Obama:

- Ao mudar sua postura e favorecer a intervenção abusiva dos militares na vida cívica do país, Washington nos mostra um futuro com o ocaso da liberdade e o desrespeito à dignidade humana. É uma nova guerra contra os processos de reformas sociais e democráticas tão necessários em Honduras.

Representante de Micheletti diz que nada mudará

Ontem, Vilma Morales, ex-presidente da Suprema Corte e que representa o presidente em exercício, Micheletti, nas negociações, afirmou que o acordo Tegucigalpa-San José "está vivo" e será mantido:

- Tudo segue caminhando e vamos continuar nessa rota.

Vilma destacou que o pacto foi acertado entre as duas partes e garante que houve um acompanhamento do Departamento de Estado americano.

- Empenhamos nossa palavras para ratificar o acordo - afirmou.

Na quarta-feira, a Suprema Corte de Honduras adiou o parecer sobre se Zelaya deve retornar ao poder. Não foi fixado novo prazo para isso, e a demora dos parlamentares complica mais a situação.