Título: Nas mãos do Estado
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2009, Mundo, p. 28

Chávez acelera o processo de estatização ao adquirir mais cinco siderúrgicas e uma produtora de cerâmica e acertar a compra do terceiro maior banco do país. Governo domina 29,5% da economia

Hugo Chávez aproveita a carta branca recebida dos venezuelanos depois do plebiscito de fevereiro, sobre a possibilidade de reeleições ilimitadas para presidente, e acelera sua Revolução Bolivariana. O atual mandato vai até 2012, mas o chefe de Estado não quer perder tempo para impor o que chama de socialismo do século 21. Na noite de quinta-feira, ele nacionalizou cinco siderúrgicas e uma produtora de cerâmica. Ontem, acertou com o grupo espanhol Santander a compra do Banco da Venezuela, terceiro maior do país.

Chávez e Emilio Botín, presidente do Santander, assinaram um documento para dar início ao processo de estatização do banco. Depois de um investimento de US$ 665 milhões desde 1996 na rede venezuelana, Botín vai receber como pagamento US$ 1,05 bilhão, segundo informou a Comissão Nacional do Mercado de Valores da Espanha. ¿Penso que alcançamos um acordo muito satisfatório tanto para a República (da Venezuela) como para o Banco Santander¿, disse Michel Gouguikian, representante da entidade espanhola. Analistas indicaram que o grupo financeiro queria um valor fixado entre US$ 1,1 bilhão e 1,3 bilhão.

A assinatura do contrato de compra e venda está marcada para 3 de julho. O pagamento será feito em três etapas: a primeira parcela no ato de assinatura de transferência do banco, no valor de US$ 630 milhões; a segunda por meio de uma promissória de US$ 210 milhões datada para 3 de outubro de 2009; e a última em 30 de dezembro.

O vice-presidente venezuelano, Ramón Carrizales, disse que os trabalhadores não serão afetados, e o banco passará a ser uma ferramenta sob controle do Estado para orientar a economia. O Banco Bancrecer, que também faz parte do grupo Santander no país, continuará como instituição privada de propriedade de Botín.

Controle Segundo um estudo baseado em números do Banco Central e publicado ontem no jornal El Universal, um dos principais da Venezuela, o setor público já domina 29,5% da economia nacional. A política de nacionalizações começou em 2007 em uma série de indústrias estratégicas, como a petrolífera, a de telecomunicações e a de eletricidade. Em 2008 e 2009, incluiu os setores siderúrgico, de cimento e bancário. Na quinta-feira, as siderúrgicas Matesi, Comsigua, Venprecar, Orinoco Iron, assim como a Tavsa, de tubos de aço, entraram para a lista. Elas têm capital japonês, mexicano, australiano e europeu e vinham travando disputas trabalhistas. A produtora de cerâmicas Carabobo também passou para o controle do Estado.

Chávez enfrenta problemas de liquidez pela queda na renda do petróleo e, de acordo com o Universal, também está negociando empréstimos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar projetos de investimentos. O objetivo é permitir o crescimento econômico sem recorrer às ¿reservas minguantes¿ do país.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, esteve em Caracas nesta semana e se encontrou com Chávez. Coutinho anunciou que a instituição brasileira poderia oferecer até US$ 4,3 bilhões. Uma fonte do BNDES consultada pelo Correio enfatizou que o valor ¿é referente a uma carteira potencial de projetos que o BNDES pode vir a financiar na Venezuela¿.

A mesma fonte ressalta que ¿o BNDES só empresta dinheiro para bens e serviços brasileiros¿, então não contempla a possibilidade de transferência de valores para empresas venezuelanas. O banco brasileiro atua na Venezuela desde 1997 e já colocou US$ 285 milhões no país, que serviram para a construção das linhas 3 e 4 do metrô de Caracas e uma usina hidrelétrica ¿ obras a cargo da empresa brasileira Odebrecht.