Título: Temporal castiga a Baixada
Autor: Tabak, Flávio; Lima, Flavia
Fonte: O Globo, 13/11/2009, Rio, p. 16

Região é a mais afetada por chuva que deixou três mortos numa mesma família e 500 desalojados

O temporal que atingiu o Rio na noite de anteontem provocou tragédia na Baixada Fluminense, a região mais afetada. Três pessoas de uma mesma família morreram e duas ficaram feridas no desabamento de uma casa no bairro de Tinguá, a 25km do Centro de Nova Iguaçu. Em Caxias, as chuvas inundaram 16 bairros, houve oito deslizamentos e moradores foram retirados de suas casas em barcos. Um bebê foi transportado numa banheira de plástico. A prefeitura decretou estado de emergência. Belford Roxo, onde até uma retroescavadeira foi utilizada para transportar idosos, e Tanguá completaram o quadrilátero das cidades mais atingidas pelas chuvas.

Ao todo, cerca de 25 mil alunos de 25 escolas e creches ficaram sem aula.

Segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil do estado, coronel Pedro Machado, 500 pessoas estão desalojadas, sendo 300 em Belford Roxo e 200 em Caxias.

Em duas horas de chuva, o Rio Tinguá transbordou, moradores perderam móveis e até carros, que ficaram submersos. Uma casa de dois quartos construída numa encosta do Morro da Biquinha foi varrida por um deslizamento de terra às 21h20m. O guardavidas José Severino de Frias, de 48 anos, e dois de seus filhos, Marilson José de Frias, de 22, e Jenifer Maria da Silva Frias ¿ que faria 16 ontem ¿ morreram soterrados. A mulher de José Severino, Maria Ângela da Silva, de 40 anos, foi hospitalizada com escoriações e hematomas na cabeça. O terceiro filho, Jonathan José da Silva Frias, de 19 anos, teve cortes profundos na cabeça e foi operado.

Maria Ângela estava na cozinha na hora do deslizamento e conseguiu sair sozinha dos escombros. Segundo vizinhos, os bombeiros chegaram uma hora depois do acidente.

¿ Minha irmã apareceu ensanguentada aqui na rua, e os vizinhos ajudaram a retirá-la daqui. Os rios estavam transbordando, foi tudo muito difícil. As cercas de arame farpado do terreno davam choque por causa dos raios ¿ contou a auxiliar de escritório Maria Selma da Silva, de 43 anos, irmã de Maria Ângela.

Nas ruas Paraná e João da Silva Bueno, próximas ao Rio Tinguá, o cenário era de destruição total: a água barrenta subiu 1,5 metro, muros foram destruídos e um Fusca foi arrastado pela correnteza. Os moradores também ficaram sem água.

¿ Perdi tudo o que tinha ¿ disse a acompanhante de idosos Cláudia da Silva Guimarães, de 41 anos.

`Nunca vi tanta água na minha vida!¿

Em Caxias, três casas desabaram e dez foram interditadas, no Parque Fluminense.

Segundo o comandante da Defesa Civil do município, coronel Ronaldo Reis, choveu em poucas horas mais da metade da quantidade esperada para todo o mês de novembro.

O município de Tanguá, na Região Metropolitana, perto de São Gonçalo, também foi muito atingido. A forte chuva deixou os moradores sem água e oito bairros alagados: Bandeirantes 1 e 2, Duques, Ampliação, Peão, Centro, Vila Cortez e Mineti.

Moradores que tiveram suas casas alagadas passaram a madrugada em duas escolas. Agentes da Coordenação da Defesa Civil de São Gonçalo usaram um bote inflável a motor para resgatar moradores ilhados. Segundo o prefeito Carlos Pereira, a cidade está em situação de calamidade: ¿ Nunca vi tanta água na minha vida! Caiu uma tromba d¿água que acabou com a cidade. Este ano, já tive problemas com enchentes, mas a de ontem (anteontem) foi cinco vezes pior.

Em Penedo, no Sul Fluminense, uma tromba d¿água arrastou carros, invadindo pousadas e casas. Por volta das 21h, moradores se assustaram com um forte estrondo na área do Rio das Pedras, cujo nível subiu cerca de 80cm, alagando principalmente o bairro de Formigueiro. A água cobriu a avenida principal e chegou a meio metro de altura nas casas.

Técnicos da Defesa civil e da prefeitura de Itatiaia ajudaram na limpeza de pousadas, lojas e residências. Os hoteleiros trocaram os colchões e garantiram que as reservas para o fim de semana estão mantidas. A prefeitura, por medida de segurança, suspendeu o fornecimento de água para a região de Penedo e abasteceu os locais atingidos com carro-pipa.

Na Região Serrana, a Defesa Civil de Petrópolis registrou dez deslizamentos de terra de madrugada. Uma mulher ficou levemente ferida no bairro Vila Rica, em Pedro do Rio, quando uma encosta caiu sobre sua casa.

Na capital, o Rio Maracanã transbordou e espalhou lixo pelas ruas.

Até o início da tarde de ontem, a Comlurb recolhera 1.200 toneladas de detritos na região.

¿ Tivemos uma pancada de chuva forte e pontual na região de Tijuca, Maracanã e Ilha do Governador.

Mas a drenagem foi rápida e não tivemos problemas ¿ avaliou o coordenador da Defesa Civil do município, coronel Sérgio Simões.

A doméstica Elizabete Maria da Silva, de 28 anos, estava na casa de uma amiga na Avenida Maracanã, próximo à bilheteria 5 do complexo esportivo, quando a forte chuva atingiu o bairro, por volta das 21h.

¿ O Rio transbordou e chegou à portaria do prédio. A água veio arrastando muito lixo. Tinha desde sacola plástica a colchão ¿ contou.

Moradora da Rua Pinto Guedes, na Tijuca, a dona de casa Maria Dulcinéia, de 50 anos, contou que, por causa dos bueiros entupidos, a água da chuva cobriu as calçadas. Ontem, depois do escoamento, havia muitos sacos plásticos nos bueiros.

Segundo a pensionista Lívia Pires, de 75 anos, que mora na Rua Jiquibá, no Maracanã, a última vez em que um temporal como o de quartafeira atingiu a região ¿ com o transbordamento do Rio Maracanã ¿ foi há um ano: ¿ Hoje (ontem), a rua ficou coberta de lama. Ainda bem que não tivemos outros transtornos.

Moradores da Rua Ceará, na Praça da Bandeira, disseram que, dessa vez, a via não teve alagamentos, graças às obras de expansão do metrô, durante as quais foram instalados bueiros.