Título: Disputa por terreno
Autor: Alves, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2009, Cidades, p. 33

Nenê Constantino é apontado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF como mandante dos crimes. Todos os casos ocorreram em 2001 e têm como motivo a disputa por um terreno em Taguatinga Norte. João Alcides Miranda e Vanderlei Batista Silva trabalhavam para o fundador da Gol e, segundo as investigações, receberam ordens dele para tramar as execuções.

Uma das vítimas é Márcio Leonardo de Sousa Brito, 27 anos. Ele morreu em 12 de outubro de 2001, no terreno próximo à antiga garagem da Viação Pioneira ¿ uma das empresas do Grupo Planeta ¿, na QI 25 de Taguatinga. Um desconhecido bateu à porta dele à 0h15. Ao sair, recebeu três tiros. Pela manhã, advogados de Constantino retiraram os ¿invasores¿. Mário liderava os cerca de 100 moradores do lugar. Os chefes de cada família receberam R$ 500. O grupo ocupava a área desde 1990. Nenê movia ação de despejo contra eles.

Já o caminhoneiro Tarcísio Gomes Ferreira, 42, morreu assassinado em 9 de fevereiro de 2001. Um pistoleiro o atacou nas proximidades da garagem da Viação Pioneira. É o mesmo local onde, oito meses depois, provavelmente a mesma pessoa tirou a vida de Márcio Brito.

As disputas pelo lugar começaram depois que Padim, o ex-empregado do grupo Planeta, vendeu lotes fracionados no terreno da Viação Pioneira.

Constantino o autorizou a morar de favor no tal prédio, mas não para negociá-lo ¿ o ex-funcionário morreu de cirrose, provocada por excesso de consumo de álcool, um ano após o assassinato de Márcio. As mortes, segundo a polícia, começaram assim que o empresário tentou retirar os moradores. Houve ameaças e incêndios criminosos. O primeiro homicídio, o de Tarcísio, teria servido de alerta para que os demais abandonassem o antigo edifício.

O caminhoneiro morreu com quatro tiros e na frente da filha de 4 anos. O pintor José Amorim dos Reis sobreviveu a dois disparos ¿ teria sido atingido por engano, pois estava ao lado do alvo principal. Ambos tinham 42 anos à época da emboscada, ocorrida por volta das 19h, em uma barraca de sanduíches e bebidas, na garagem da Pioneira. Tarcísio trabalhou como motorista da Planeta. Deixou a empresa após se desentender com Constantino por atraso de pagamentos.

Viúva desaparecida Os autores dos tiros nunca foram presos. A polícia os identificou como Juninho e Manoel. Ambos acabaram mortos menos de dois anos após os crimes no terreno de Constantino. ¿Eles foram assassinados em outro estado, por isso a polícia daqui não investigou esses casos¿, ponderou o promotor Bernardo de Urbano Rezende, do Tribunal do Júri de Taguatinga. Com isso, não se investigou se as mortes dos pistoleiros estão relacionados com os homicídios imputados a eles. Já a viúva de Padim, que denunciou o patrão, não é vista em casa e no trabalho desde o começo da semana. Ela também não atende o telefone.