Título: Prisão domiciliar para Constantino
Autor: Alves, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2009, Cidades, p. 33

Suspeito de ser mandante do assassinato de dois homens, fundador da Gol Linhas Aéreas consegue na Justiça o direito de responder ao processo em casa. Promotores o acusam de intimidar testemunhas

Os dois pistoleiros contratados para matar dois homens, em 2001, a mando do empresário Constantino de Oliveira, fundador da Gol Linhas Aéreas, acabaram assassinados. Promotores não conseguem contato com uma das principais testemunhas do caso. Pretendem dar proteção à mulher, ameaçada de morte. Cobradora da Viação Planeta, ela deu o depoimento-chave para o pedido de prisão do dono dessa e de outras empresas de ônibus, que formam o maior conglomerado do setor no país. As revelações partiram dos responsáveis pelo caso no Ministério Público do Distrito Federal (MPDF). Enquanto isso, a Justiça concedeu ao acusado o direito de responder o processo em casa, antes de a polícia cumprir a ordem anterior, que era colocá-lo atrás das grades.

Nenê Constantino, como é mais conhecido o empresário de 78 anos, mora na Península dos Ministros, área nobre do Lago Sul, setor com o metro quadrado mais caro de Brasília. Na noite de quinta-feira, o Tribunal de Justiça do DF negou um habeas corpus para ele responder ao processo em liberdade. Os defensores recorreram à prisão domiciliar, alegando uma doença do cliente. Às 20h, a desembargadora Sandra De Santis Mello atendeu o pedido. Mas isso não significa a apresentação imediata do fundador da Gol à Justiça brasiliense. ¿Constantino de Oliveira encontra-se, neste momento, em tratamento médico e se apresentará à Justiça espontaneamente tão logo tenha condições de saúde para tal¿, afirmou, por meio de nota, o advogado Marcelo Luiz Ávila de Bessa, antes de saber da concessão da prisão domiciliar. Ele não revelou a doença do cliente, nem a clínica onde ele estaria.

Os promotores responsáveis pela investigação contra Constantino estavam preocupados com o relaxamento da prisão. ¿Isso (a prisão domiciliar) seria temerário porque ele teria as mesmas condições de intimidar as testemunhas¿, afirmou Wilton Queiroz de Lima, diretor do Centro de Inteligência do MPDF, antes de a juíza tomar a decisão. Ele e outros dois promotores contaram que a prisão preventiva do empresário foi pedida porque ele subornou testemunhas. Tratam-se de funcionários da Gol e do grupo Planeta, segundo o Ministério Público. Todos teriam sido pressionados a imputar as duas mortes as quais Constantino é acusado a um ex-empregado da Planeta, já morto.

Escutas telefônicas Entre as provas, segundo o promotor Bernardo de Urbano Resende, do Tribunal do Júri de Taguatinga, estão interceptações telefônicas realizadas no fim de 2008. Ele não revelou o teor das conversas, alegando segredo de Justiça. Mas, segundo o promotor, uma das testemunhas ¿compradas¿ é a viúva de um ex-rodoviário, conhecido como Padim. A mulher teria ganho uma casa de Constantino no início deste ano. Um filho dela teria recebido oferta de emprego do também empresário Victor Foresti, genro e sócio de Nenê Constantino no grupo Planeta e vice-presidente do Setransp, o sindicato das empresas de ônibus da capital da República.

Foresti foi preso na tarde de quinta-feira. Ele e os motoristas aposentados João Alcides Miranda, 61, e Vanderlei Batista Silva, 67, também detidos, estariam envolvidos nos assassinatos de dois homens que invadiram terras do grupo Planeta em Taguatinga Norte. Uma das vítimas liderava o grupo de 100 pessoas que se recusavam a deixar as moradias porque haviam comprado lotes no local, vendidos por Padim.