Título: Lula: Estado foi incompetente na educação
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 14/11/2009, O País, p. 10

Presidente defende contratação de mais professores, elogia ensino privado e cita expressão em latim para ironizar Caetano

SÃO PAULO. Ao defender ontem em São Paulo mais investimentos em educação e tecnologia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula destacou a incompetência do Estado para destinar recursos a esses setores e disse que, se não fossem os investimentos privados, apenas a elite paulistana estaria cursando uma universidade. Ele defendeu a contratação de mais professores, ainda que isso signifique inchaço na máquina estatal, na abertura do 9º Congresso Nacional de Iniciação Científica:

- A verdade é que o Estado não cumpriu as suas obrigações. Graças a Deus houve empresários neste país que tiveram coragem de fazer investimento. Se não fosse o ensino privado, a incompetência do Estado brasileiro de investir na educação nos levaria a ter apenas uma pequena elite paulistana estudando em universidade.

"Se o Estado não for forte, não existe Estado"

Lula disse que durante muito tempo prevaleceu a ideia de que o Estado tem que ser fraco, com autonomia apenas para a gestão. Mas ele defendeu um Estado forte:

- Se o Estado não for forte, não existe Estado. O Estado não existe só para ser o gestor. Precisa ser o indutor, o regulador.

Ele rebateu as críticas de que a máquina estatal tenha aumentado durante o seu governo. Segundo o presidente, o país tem apenas dez mil funcionários a mais do que em 1997 e não pode dar um salto de desenvolvimento se não investir em pessoal.

- Eu vejo muito, sobretudo em alguns jornais aqui de São Paulo, pessoas falando que o governo está inchando a máquina. Veja que engraçado: hoje nós temos o mesmo número de funcionários públicos que tínhamos em 1997. Aliás, temos 10 mil a mais. Ora, como é que este país vai dar um salto na educação, sem contratar professores? Como é que a gente vai melhorar a polícia, sem contratar mais policiais? - perguntou.

Para Lula, o país subiu um degrau na possibilidade de se transformar num país "grande" também do ponto de vista econômico, educacional e da Justiça Social e, por isso, os recursos precisam ser direcionados para educação, pesquisa e formação de cientistas. Ele lembrou do PAC da Ciência e Tecnologia, que incumbiu o ministro Sérgio Rezende de preparar, e afirmou que os investimentos devem chegar a R$41 bilhões até 2010.

- O dinheiro da ciência, da pesquisa e tecnologia está garantido.

Lula ironizou o cantor Caetano Veloso ao falar sobre educação. Ele usou uma expressão em latim para tentar mostrar a Caetano, que recentemente o chamou de analfabeto em entrevista, que consegue falar difícil.

- A educação é condição "sine qua non" para isso (dar um salto de qualidade). Eu estou falando "sine qua non" porque o Caetano Veloso vai ouvir que eu falei "sine qua non". Ele vai dizer: "Porra, como o Lula está..."

Lula não quis falar de política, mas disse que vai rezar por seu sucessor:

- Eu, quando deixar a Presidência, vou ser o primeiro presidente a torcer e rezar todo santo dia para quem me suceder fazer muito mais coisas do que eu, o dobro, o triplo.