Título: Enfim, Brasil tem meta para Copenhague
Autor: Barbosa, Adauri Antunes; Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 14/11/2009, Ciência, p. 40

País quer cortar de 36,1% a 38,9% das emissões projetadas para 2020

RIO e SÃO PAULO. O Brasil levará para a Conferência do Clima das Nações Unidas, em Copenhague, na Dinamarca, em dezembro, o compromisso voluntário de reduzir as emissões projetadas de CO2 para 2020 em até 38,9%, conforme anúncio feito ontem em São Paulo pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e pelo embaixador Luiz Alberto Figueiredo, depois de uma reunião de 1h45 minutos com Luiz Inácio Lula da Silva. Mais cedo, o presidente sinalizou com a possibilidade de ir pessoalmente à reunião da ONU, ao afirmar: ¿vamos chegar a Copenhague para discutir a questão do clima com a mesma força que nós chegamos para discutir as Olimpíadas, muito forte e com muita razão¿.

Cientistas e ambientalistas dizem que uma meta de redução para Copenhague é bem-vinda, mas cobram mais detalhamento do governo sobre seu cumprimento e financiamento.

¿ O fato de o país ter uma meta é muito positivo, mas a falta de detalhamento abre o flanco para que o anúncio seja visto como plataforma eleitoral, como uma forma de pintar de verde a candidata desenvolvimentista ¿ afirmou o coordenador da Campanha de Clima do Greenpeace, João Talocchi.

Para que perca o eventual caráter eleitoreiro, defende Talocchi, a meta deveria ser incorporada à Política Nacional de Mudanças Climáticas e ser apresentada como compromisso internacional na reunião de Copenhague.

O secretário do Fórum Nacional de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe, afirmou que, a pedido do presidente, está confiando aos mais diversos especialistas do fórum a tarefa de detalhar a execução das ações, elaborar um cronograma, e apontar a capacidade de captação de recursos internacionais.

As metas definidas ontem têm como base a tendência de emissão de CO2 na próxima década.

O Brasil vai tentar reduzir as emissões adotando uma série de medidas de mitigação.

¿ O objetivo é assumir uma posição política e mostrar que o Brasil tem compromisso com o desenvolvimento sustentável ¿ disse Dilma.

Especialistas criticam a meta baseada em projeções e estimativas.

¿ Faltou o detalhamento de como o governo estimou esse cenário tendencial de crescimento de emissões ¿ afirmou o coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia da ONG WWF, Carlos Rittl. ¿ E acho que seria importante ampliar o diálogo com a sociedade sobre as ações.

A ministra, que deverá chefiar a delegação brasileira em Copenhague, garantiu que o governo vai abrir um processo de debate com a sociedade sobre as ações que serão implementadas.

A partir dessa discussão, serão definidos projetos a serem executados e listadas as fontes de financiamento.

Presidente pede planos estaduais As ações foram divididas em quatro grandes grupos: uso da terra, que leva em conta a redução do desmatamento da Amazônia e do Cerrado (que diminuiria as emissões em 24,7% até 2020); agropecuária, com a recuperação de pastos, a integração lavoura-pecuária, o plantio direto e fixação biológica de nitrogênio (4,9% a 6,1%); energia, com a eficiência energética, incremento do uso de biocombustíveis, a expansão da oferta de energia por hidrelétricas; e fontes alternativas (6,1% a 7,7%).

Segundo Dilma, os financiamentos para as ações que vão levar à redução das emissões de gases terão como origem recursos do governo federal, principalmente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), assim como de organismos internacionais, de governos estaduais e da iniciativa privada. Formas de financiamento externo também serão estudadas.

¿ O presidente Lula determinou que haja planos estaduais, com a iniciativa privada e com a agropecuária. Os empresários vão ter que fazer esforço, porque, se não fizerem, mais cedo ou mais tarde terão barreiras lá fora ¿ disse Carlos Minc.

Uma estimativa do Banco Mundial aponta que US$ 400 bilhões são necessários para combater o aquecimento global até 2020. A União Europeia já anunciou que deve contribuir com 100 bilhões de euros, mais de US$ 149 bilhões.

¿ O Brasil tem compromisso com o desenvolvimento sustentável e isso implica uma posição muito clara que é de redução das emissões de gases ¿ disse Dilma.

Para o ministro Minc, as metas são ambiciosas, mesmo sendo o Brasil considerado ainda um país em desenvolvimento: ¿ A Índia vai dobrar suas emissões até 2020. A meta do Brasil, que é voluntária, é a mais audaciosa dentre os emergentes.

Para o embaixador Luiz Alberto Figueiredo, diretor do Departamento do Meio Ambiente do Itamaraty, a adoção da meta posiciona o Brasil em um panorama ousado.

¿ O Brasil vai ser ambicioso em Copenhague ¿ garantiu.

Carlos Rittl, do WWF, concorda que a meta é importante: ¿ É um número importante, superior aos de alguns países desenvolvidos e pode trazer um ânimo novo para as negociações ¿ disse o ambientalista. ¿ Saímos de Barcelona num clima tenso, num jogo de empurra. O número é um passo correto e nesse momento da negociação gestos políticos como esse de hoje são necessários.