Título: É pura exploração política
Autor: Alencastro, Catarina; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 12/11/2009, O País, p. 3

Para ambientalistas, governo tenta equiparar Dilma a Marina Silva

BRASÍLIA. Representantes de organizações não governamentais da área ambiental classificaram como exploração política a estrutura montada pelo governo para anunciar hoje o menor desmatamento da Amazônia registrado nas últimas décadas. As presenças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no evento, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde funciona provisoriamente a sede da Presidência, estão sendo entendidas como uma jogada de campanha eleitoral para 2010.

No entendimento do coordenador de pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Osvaldo Stella Martins, é evidente o uso político no evento. Para ele, o objetivo é dar uma ¿roupagem ambiental¿ a Dilma Rousseff e confrontá-la com a ex-ministra Marina Silva (PV-AC), possível candidata à Presidência, que tem como principal bandeira o meio ambiente.

¿ É claro que se trata de pura exploração política.

O governo está investindo para dar um ar ambiental à Dilma num cenário político que tem, do outro lado, alguém com histórico nessa área, no caso a Marina Silva ¿ disse Osvaldo Martins.

Para o ex-deputado federal pelo PSDB e ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo Fábio Feldmann, é bom comemorar qualquer queda do desmatamento, mas ele considera que a taxa continua muito alta. Se Dilma vai aparecer hoje anunciando números positivos, deve divulgar também quando o resultado for negativo, afirma.

¿ Do mesmo jeito que ela aparece quando cai o desmatamento, tem que ver se vai ser ela a apresentar o dado quando o desmatamento crescer ¿ acrescentou Feldmann.

Um dos coordenadores do Greenpeace, Paulo Adário lembrou que não é a primeira vez que Lula anunciará dados do desmatamento, o que ocorreu também em 2006, ano em que o petista foi reeleito. Para Adário, o presidente agora está num processo de ¿politização¿ da questão ambiental.

¿ Essa politização não é ruim. Dá importância e ênfase à questão do desmatamento. Seja o Lula, a Dilma ou o Papa, é bom para a causa. Lula, agora, vai colocar a sua estrela (Dilma) nesse jogo ¿ afirmou o ambientalista.

Osvaldo Martins associou a imagem de Dilma à do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): ¿ A Dilma é a mãe do PAC. E o PAC é o grande inimigo da Floresta Amazônica. Vai ser balela eleitoral ¿ disse ele.

Mesmo com a redução que será anunciada hoje, Paulo Adário avalia que a taxa de desmatamento no Brasil ainda é alta, mas elogiou a atuação das entidades não governamentais.

¿ Estamos ainda longe de um bom número. A boa notícia é que a sociedade está aprendendo a manter o governo sob pressão. E o governo está reagindo.