Título: Gerador falha e três morrem em hospital do Rio
Autor: Antunes, Laura; Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 12/11/2009, Economia, p. 25

No dia seguinte ao blecaute, trens e metrô circulam com atraso e parte dos sinais de trânsito continua apagada

Laura Antunes, Flávio Tabak, Ludmila Curi e Waleska Borges

No Hospital Carlos Chagas, na Zona Norte, até mesmo o gerador entrou em pane durante o apagão de terça-feira.

A unidade ficou às escuras das 22h30m às 3h, período em três pacientes morreram. Elza Maria de Jesus, de 77 anos; Antonio José Rocha, de 84; e Ene Barreto da Silva, de 73, morreram entre 22h30m e 23h25m, nas primeiras horas do blecaute. A Secretaria estadual de Saúde nega que os óbitos tenham ocorrido por causa do problema no gerador.

O Cremerj, no entanto, vai abrir sindicância para investigar o caso. O presidente do Sindicato dos Médicos (SindMed-RJ), Jorge Darze, disse que vai pedir uma auditoria ao Ministério Público estadual. O presidente da Associação de Moradores de Marechal Hermes, Miguel Santos, por sua vez, vai solicitar à 30aDP (Marechal Hermes) abertura de inquérito.

O gerador do Carlos Chagas funciona com diesel e tem capacidade para 900 litros de combustível. A auxiliar de enfermagem Lenir de Andrade Pinheiro disse ter ouvido de uma colega, que trabalhou na madrugada de ontem, que os pacientes morreram por causa do blecaute.

De elevadores, 104 pedidos de socorro O Corpo de Bombeiros informou que recebeu 104 pedidos de socorro de pessoas presas em elevadores em todo o estado. A maioria dos casos aconteceu na Zona Sul e no Centro do Rio.

Sinais de trânsito de pelo menos dez bairros do Rio também entraram em pane. Segundo a CET-Rio, os mais atingidos foram: Copacabana, Ipanema, Leblon, Madureira, Taquara, Praça Seca, Campo Grande, Irajá, Bonsucesso, Ramos, Méier e parte da Tijuca.

Além desses, os sinais na Avenida Presidente Vargas, na altura da Central do Brasil, também tiveram problemas. Segundo a CET-Rio, equipes estiveram nas ruas para fazer o reparo dos sinais e 200 agentes de trânsito ajudaram a orientar o trânsito.

Segundo a presidente da CETRio, Cláudia Secin, 5% dos 2.300 cruzamentos com sinais e travessias de pedestres ainda apresentavam problemas na manhã de ontem. As localidades mais afetadas foram: a orla da Zona Sul, nos bairros de Copacabana, Ipanema e Leblon, além de pontos no Centro da cidade, Campo Grande, Jacarepaguá, Méier, Botafogo e Tijuca. Ainda de acordo com a CET-Rio, pela manhã, das 208 ocorrências recebidas 86 tinham sido normalizadas. Alguns dos sinais estavam piscantes e outros apagados. Nestes locais, guardas municipais ajudavam na orientar o trânsito.

¿ Queremos dar os parabéns à população pelos exemplos de cidadania e educação no trânsito ¿ disse ela.

Na manhã seguinte ao apagão, os cariocas enfrentaram problemas para chegar ao trabalho. As estações de metrô ficaram cheias devido ao aumento do tempo entre as composições. Os trens da SuperVia começaram a operar às 5h57m, duas horas após o habitual.

¿ Estava tudo atrasado. Os trens estavam indo até Deodoro.

Vou chegar tarde no trabalho ¿ reclamava a operadora de telemarketing Rosimeire Luiz, de 47 anos, que pegou o trem às 7h em Queimados e só chegou à Central depois das 10h.

Em nota, a SuperVia explicou que teve de vistoriar todas as instalações elétricas antes de religar o sistema.

Cerca de 15 horas após o apagão da noite de terça-feira, parte da Tijuca sofreu nova falta de energia no início da tarde de ontem.

Paes anuncia plano específico para blecautes O prefeito Eduardo Paes anunciou ontem que o município vai criar um plano específico para possíveis blecautes até o fim deste ano. As reuniões para discutir as medidas que devem ser implantadas na cidade, com diversos órgãos da prefeitura, começam já na próxima semana.

Depois de reunião no Centro de Controle de Tráfego (CTA) da CET-Rio, Paes disse que, durante o apagão, foi adotado o planejamento emergencial de chuva, coordenado pela Defesa Civil municipal.

¿ Tivemos uma reação adequada para o tamanho do problema ¿ avaliou Paes, lembrando que se aplicou durante o apagão o plano emergencial para grandes chuvas. ¿ Graças a Deus, não tivemos maiores consequências.

Não há registros de incidentes de violência ou sequer de acidentes de trânsito.

Os serviços públicos essenciais estavam funcionando, os hospitais tinham geradores. A população foi colaborativa, diminuiu a velocidade e tomou mais cuidado, principalmente, pela ausência de semáforos em funcionamento.

De acordo com o prefeito, para amenizar os problemas com o blecaute, a CET-Rio e a Guarda Municipal colocaram todo o seu efetivo noturno nas ruas. A troca de turno dos agentes, que seria feita meianoite, também foi suspensa.

Ainda segundo Paes, o governador Sérgio Cabral determinou que as forças policiais fossem para as ruas.

Segundo o subsecretário de Defesa Civil, Sérgio Simões, a reação da prefeitura durante o apagão também foi um teste para as fortes chuvas de verão.

De acordo com ele, amanhã, haverá uma nova simulação do plano de fortes chuvas com a participação da Rio Águas e a GeoRio: ¿ A lógica é colocar o máximo de efetivo na rua para que as pessoas tenham a sensação e, efetivamente, a presença do poder público nos momentos de dificuldade.

De acordo com o comandante da Guarda Municipal, Ricardo Pacheco, durante a noite de terça-feira e a madrugada de ontem, cerca de 250 homens da CET-Rio, GM e Defesa Civil foram para as ruas. Segundo ele, ontem, além dos 600 agentes do trânsito, outros 1.200 estavam de prontidão: ¿ Estamos em regime de alerta. Se for preciso, todas as demais atividades serão interrompidas.

Vamos cobrir todos principais pontos de concentração da população e corredores viários.