Título: Perdas do comércio e indústria
Autor: Daflon, Rogério; Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 12/11/2009, Economia, p. 26

Nos restaurantes, alimentos e equipamentos estragaram

Erica Ribeiro, Lino Rodrigues e Ronaldo D'Ercole

RIO e SÃO PAULO. Restaurantes, bares e supermercados tiveram prejuízos com o apagão de terça-feira. Levantamento do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio), em oito bairros, mostrou que os estabelecimentos perderam, em média, 75% do estoque de alimentos perecíveis, além de máquinas e equipamentos, como freezers horizontais e geladeiras. O restaurante La Forneria, em Ipanema, teve o motor de uma câmara frigorífica danificado e toda a comida estragou. No supermercado Portofino, em Copacabana, o prejuízo foi de R$100 mil. O diretor da rede, Leonardo Bettanio, calculou que mais de 300 kg de carne, 400 kg de cortes de frango e demais produtos estragaram. Apenas alimentos que estavam em câmaras frigoríficas se salvaram. Setores da indústria que funcionam 24 horas por dia ¿- petroquímica, alimentos e siderurgia ¿- foram os mais prejudicados, segundo a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). O gerente de Infraestrutura e Novos Negócios do Sistema Firjan, Cristiano Prado, disse que a produção foi parada total ou parcialmente. Na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, o ritmo dos equipamentos principais foi reduzido e houve a parada de equipamentos secundários. A Petrobras usou o sistema emergencial de geração de energia em suas refinarias, mas não houve impacto significativo na produção global ou no abastecimento. A ArcelorMittal Brasil teve paralisações em três usinas de Aços Longos. Na usina de Cubatão houve falta de energia elétrica por cerca de duas horas, mas o funcionamento foi regularizado ontem. A Gerdau teve interrupção temporária em suas unidades industriais no Rio, Minas Gerais e interior de São Paulo. E a Vale, que teve problemas no Sistema Sul da companhia (Minas Gerais e Espírito Santo), está avaliando a extensão dos problemas. Em São Paulo, entre empresas que usam energia de forma intensiva, a conta é de "alguns milhões perdidos". De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), Ricardo Lima, pior que a interrupção do fornecimento foi o tempo que demorou para ele ser restabelecido. Fabricantes de vidro, alumínio, cerâmica e mesmo de produtos petroquímicos usam energia em regime contínuo e os geradores não suportam muito tempo. Lima queixou-se que, nos últimos oito anos, por causa dos investimentos para tornar o sistema mais robusto no país, as tarifas de transmissão pagas pelos grandes consumidores subiram cerca de 500%. ¿ É como se o consumidor tivesse pago por um seguro e quando precisou desse seguro não pode usar ¿ disse. No pólo de cerâmica da região de Itu, no interior paulista, que reúne mais de 70 fabricantes de produtos cerâmicos para construção civil, estima-se que as cinco horas de paralisação por falta de energia representaram uma perda equivalente a um dia de trabalho. O diretor de energia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcante, minimizou os impactos. ¿ A grande maioria das empresas trabalha até às 17 horas e outra parcela até, no máximo, as 22 horas ¿ disse. Ele elogiou a evolução do sistema de distribuição desde o apagão de 1999. Sobre eventuais ressarcimentos, disse que, se o apagão foi um problema tecnológico, a responsabilidade é do Operador Nacional do Sistema (ONS).