Título: Piqueteiros tomam ruas em Buenos Aires, e o governo acusa a oposição
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Fonte: O Globo, 12/11/2009, O Mundo, p. 34

Gabinete se diz alvo de plano para minar a liderança de Cristina Kirchner

Janaína Figueiredo Correspondente

BUENOS AIRES. A capital argentina voltou a viver um dia de caos ontem, provocado pela organização de várias manifestações e bloqueios de ruas, comandados, entre outros, por grupos de desempregados (os chamados piqueteiros), que voltaram a exigir programas de ajuda social ao governo da presidente Cristina Kirchner. A mesma situação ocorreu semana passada, e ontem o chefe de Gabinete, Aníbal Fernández, assegurou, em visita ao Congresso, que ¿o que está acontecendo nas ruas não é coincidência¿, reiterando a hipótese governista de um plano orquestrado pela oposição para enfraquecer o governo Kirchner.

A mesma opinião é defendida por importantes sindicatos do país, entre eles o dos caminhoneiros, que semana passada bloqueou as empresas que distribuem os jornais ¿Clarín¿ e ¿La Nación¿, os mais importantes do país. O poderoso sindicato é liderado por Hugo Moyano, aliado do casal Kirchner e chefe da Central Geral de Trabalhadores (CGT), que convocou uma marcha para o próximo dia 20 de novembro, em defesa do governo K.

Paralisação do metrô agrava caos no trânsito Esta semana, a própria presidente argentina assegurou que ¿algumas situações são provocadas e amplificadas, para criar um clima de mau humor na sociedade¿. Ontem, o chefe de Gabinete afirmou que ¿os que pensam que vamos acabar indo embora ou que vão nos tirar (do poder) podem esquecer¿.

Fernández aproveitou para criticar a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que na última terça-feira encerrou sua 65aAssembleia Anual, em Buenos Aires.

¿ (A SIP) deu refúgio a alguns homens que foram golpistas ¿ acusou Fernández.

Uma paralisação da rede de metrô por disputas entre o sindicato do setor e a empresa Metrovias complicou ainda mais o trânsito nas ruas. Ontem, os protestos foram realizados por veteranos de guerra das Malvinas, em reivindicação dos benefícios suspensos, estudantes da Federação Universitária de Buenos Aires, em protesto contra a eleição de autoridades da entidade, pela esquerdista Corrente Classista e Combativa e por outras organizações sociais e de piqueteiros, que há semanas estão pedindo mais ajuda social ao governo Kirchner e, sobretudo, o controle dos programas sociais.

Os piqueteiros argumentam que os recursos destinados a planos sociais são usados pelos prefeitos da província de Buenos Aires, onde vive um terço da população do país, para reforçar a rede de clientelismo político.

Para alguns grupos de desempregados, cada vez mais afastados do governo K, o dinheiro dos programas sociais só chega aos pobres que colaboram com prefeitos kirchneristas.

Oposição acusa governo de ter perdido o controle O caos portenho se transformou num grave problema para o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri, líder da oposição e pré-candidato para as eleições presidenciais de 2011. Macri acusou o governo Kirchner de ter perdido o controle do espaço público e exigiu medidas urgentes para conter a onda de protestos na capital.

¿ O governo não tem vocação para resolver os conflitos, não usa todos os meios que tem ao seu alcance para impedir este caos ¿ argumentou o chefe de governo.

A resposta da presidente argentina foi enfática: ¿ Acredito em ordem, mas não a pauladas.

Já a deputada eleita e ex-candidata presidencial Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, assegurou que ¿o caos é provocado pelo governo e usado por outros setores para conspirar.