Título: Vulneráveis e sem voz
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Fonte: O Globo, 12/11/2009, Ciência, p. 36

Os países mais afetados pelo aquecimento se unem e fazem apelo global

O grupo dos 11 países mais vulneráveis do mundo ao aquecimento global fez ontem um dramático apelo aos líderes mundiais para que fechem um acordo capaz de deter os efeitos mais adversos da elevação das temperaturas, capazes de fazer simplesmente desaparecer nações insulares como Maldivas e Kiribati.

Os países pediram especificamente ao presidente dos EUA, Barack Obama, e aos líderes das economias emergentes, como Índia e China, que compareçam, pessoalmente, à reunião da ONU sobre mudanças climáticas, em dezembro, em Copenhague. O objetivo do encontro é elaborar um acordo global para substituir o Protocolo de Kioto, que expira em 2012.

Desertificação, inundação e tufão

Bangladesh, Barbados, Butão, Gana, Quênia, Kiribati, Maldivas, Nepal, Ruanda, Tanzânia e Vietnã formam o grupo intitulado V11, os mais vulneráveis a inundações desertificações e tufões devido ao aquecimento global.

Seus líderes encerraram ontem uma reunião de dois dias nas Maldivas, se comprometendo a tornar suas economias o mais verde possível como forma de contribuição, ainda que simbólica, para a redução global das emissões de CO2 e outros gases do efeito estufa.

O presidente das Maldivas, Mohamed Nasheed, afirmou que as nações em desenvolvimento deveriam dar o exemplo, comprometendose com um mundo neutro em emissões de carbono.

As Maldivas já se comprometeram a se tornar o primeiro país do mundo neutro em carbono. A neutralidade de carbono significa alcançar um equilíbrio da quantidade de dióxido de carbono ¿ o principal gás do efeito estufa ¿ e o montante sequestrado ou compensado. No mês passado, o governo anunciou planos de construir um complexo eólico para obter 40% de sua eletricidade.

¿ Se aqueles com menos podem fazer mais, que desculpa tem os países ricos para manterem a inércia? ¿ disse Nasheed, na ilha de Bandos, desafiando os líderes das nações ricas.

As Maldivas se tornaram uma voz de liderança no que diz respeito ao aquecimento global, e até promoveram uma reunião subaquática do gabinete, no mês passado, com objetivo de chamar atenção para o problema.

A elevação dos mares pode inundar o arquipélago em um século. As ilhas do país estão, em média, apenas 2 metros acima do nível do mar.

Um aumento de 2 graus Celsius na temperatura global ¿ número com o qual trabalham os negociadores ¿ seria uma sentença de morte para nações como essas.

Segundo Nasheed, apenas alguns países mostram liderança moral sobre as alterações climáticas: ¿ Há uma abundância de políticos dispostos a apontar os culpados.

Porém há poucos preparados para ajudar a resolver uma crise que, se ignorada , consumirá todos nós.