Título: Meirelles deve ficar no BC até fim de 2010
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 18/11/2009, Economia, p. 21

"Maior probabilidade" é ir até o fim a pedido de Lula, diz presidente do banco, que nega mudanças

BRASÍLIA. Após a baixa de Mário Torós na Diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC), o presidente da instituição, Henrique Meirelles, disse ontem que não está previsto "nenhum movimento próximo" de novas saídas da cúpula do banco. Meirelles, inclusive, disse, pela primeira vez, que deve ficar até o fim de 2010 à frente do BC, atendendo a pedido do presidente Lula. Meirelles se filiou ao PMDB em setembro, com o intuito de concorrer ao governo de Goiás ou ao Senado nas eleições do próximo ano.

O presidente do BC fez as declarações ao ser perguntado se outros diretores, como Mário Mesquita (Política Econômica) e Gustavo Matos do Vale (Fiscalização), também sairiam.

- Não está previsto nenhum movimento próximo no BC. Esses diretores manifestaram seu desejo e sua concordância de estar comigo na gestão do banco. Evidentemente, no dia em que eu deixar o banco, poderemos falar sobre o futuro. Existem duas datas: dezembro de 2010, o fim do mandato do presidente Lula, e, se porventura eu decidir por uma via eleitoral, abril de 2010. A maior probabilidade é que eu atenda o convite do presidente Lula e fique no BC até o final - afirmou Meirelles.

Nos bastidores, Mário Mesquita não esconde que queria sair mesmo antes de a crise atingir seu ápice, em setembro de 2008. Mas, com a demissão de Torós, o diretor não deve concretizar seu desejo tão cedo. Ele entendeu que é preciso consolidar o primeiro escalão do BC após a crise iniciada com as declarações de Torós na semana passada, quando tornou públicos detalhes das ações do governo no combate à crise em entrevista ao jornal "Valor Econômico".

Meirelles comentou publicamente a entrevista pela primeira vez:

- Ele (Torós) me disse que o que é responsabilidade dele na entrevista está entre aspas. Não o restante da entrevista, que teria sido fonte de diversas pessoas. Isso foi o que ele me afirmou. Entre aspas dele ou não, o que estão ali são opiniões pessoais, seja do diretor seja de outras pessoas. E o BC fala, em termos oficiais, através de seus documentos e das palavras de seu presidente.

Lula assina indicação de Aldo Mendes para diretoria do BC

Meirelles defendeu ainda a indicação de Aldo Luiz Mendes para o lugar de Torós, argumentando se tratar de um funcionário independente em "atitude e pensamento". Mendes é funcionário de carreira do Banco do Brasil (BB), foi vice-presidente de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores da instituição até abril deste ano e atualmente comanda a Companhia de Seguros Aliança do Brasil, da qual o BB é sócio.

- É um profissional, técnico, independente e perfeitamente adequado ao perfil de diretor do BC.

Ontem, Lula assinou a indicação de Mendes para a diretoria de Política Monetária do BC. Espera-se que ele seja sabatinado e aprovado pelo Senado até o próximo dia 30, para participar da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 8 e 9 de dezembro. A avaliação é que o nome do futuro diretor não enfrentará resistências no Senado. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse ontem que pretende agendar a sabatina de Mendes para a próxima terça-feira, dia 24.

A chegada de Mendes não deve mudar a atuação do BC, já que ele tem perfil conservador, semelhante ao de Torós. Mendes foi escolhido pelo próprio Meirelles antes mesmo da entrevista de Torós, tendo até levado o nome a Lula, que pediu para tratar do assunto quando voltasse da Itália. Diante da bomba jogada por Torós, a troca foi antecipada.