Título: Em milésimos de segundos, 3 curtos-circuitos
Autor: Almeida
Fonte: O Globo, 18/11/2009, Economia, p. 23

Segundo ONS, evento inédito teria causado apagão. Presidente do órgão diz que nenhum sistema é imune a blecaute

Cássia

Três curtos-circuitos simultâneos, causados por raio, possibilidade já levantada pelo governo, ou chuva forte, que diminuiu a capacidade de isolamento das linhas de transmissão, são as hipóteses com as quais o Operador Nacional do Sistema (ONS) está trabalhando para explicar o blecaute que atingiu 18 estados brasileiros e cerca de 60 milhões de pessoas na última terça-feira. Depois de uma reunião com 70 técnicos de todas as empresas envolvidas, como Itaipu, Furnas, Eletropaulo e Light, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse ontem, na sede do órgão no Rio, que as descargas elétricas (curtos) ocorreram em intervalos de 13,5 milésimos de segundo, entre as subestações de Ivaiporã (PR) e Itaberá (SP), o que provocou o apagão:

- Nunca houve três curtos praticamente simultâneos no sistema. De 2000 a 2009, houve nove ocorrências de curtos triplos, mas com intervalos de três a cinco segundos. Desta vez, foram em intervalos muito pequenos. Se ficássemos sem duas linhas, nada aconteceria. Mas três linhas no intervalo como esse não tem como - explicou Chipp.

Curto próximo à subestação agravou o problema

Segundo o diretor da ONS, além do raio, "condições meteorológicas desfavoráveis", como chuva e vento, molham os isoladores, o que diminui a capacidade de a linha suportar tensões elevadas.

- Essa ocorrência (de três curtos juntos) é de probabilidade raríssima. Não se planeja o sistema para enfrentar essa ocorrência em nenhum país do mundo. É antieconômico manter um sistema de redundância (alternativo). Nenhum grande operador com sistemas semelhantes ao nosso usa isso.

O relatório do ONS, contendo as causas e os efeitos do apagão, fica pronto na próxima semana. Além disso, trarás as medidas que podem ser tomadas para se evitar a propagação e a repetição de blecautes. O relatório será enviado ao Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Segundo Chipp, o que agravou o quadro no dia do apagão foi o fato de o primeiro curto ter acontecido próximo à subestação, onde a distância entre as fases das linhas de transmissão se aproximam, aumentando a possibilidade de propagação de curto-circuito.

- Essa convergência facilitou a ocorrência - afirmou Chipp.

Problemas climáticos foram detectados no início da tarde

O diretor do ONS disse também que a ação de hackers foi completamente descartada na rede operacional.

- Os centros de controle operam por comando de voz - garantiu Chipp.

O executivo afirmou ainda que o Sistema Meteorológico do Paraná alertou para problemas climáticos no início da tarde do dia do apagão. A carga naquelas linhas foi reduzido, como precaução. Porém, nenhum novo alerta foi dado, afirmou o diretor do ONS.

Segundo Chipp, "nenhum sistema do mundo é imune à blecaute". O objetivo, agora, segundo ele, é encontrar soluções para evitar a propagação de problemas como o que aconteceu no dia 10.

- E já conseguimos minimizar essa propagação. Os estados afetados significativamente foram São Paulo, Rio, Espírito Santo e Goiás. Houve perda de tensão pois o esquema regional de alívio de carga faz com as distribuidoras contribuam com uma parte para que a energia seja restabelecida.

O Ministério Público Federal vem acompanhando o caso e já pediu informações a Aneel, às universidades USP e UFRJ, à Cemig e a Furnas. Relatório de Itaipu mostra que um raio atingiu uma das linhas de transmissão às 13h31 do dia 10, nove horas antes do apagão.