Título: Captação seria diferente sem Lula, diz analista
Autor: Miranda, André; Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 19/11/2009, O País, p. 13

Para consultor, carisma do presidente atua como "mágica" para atrair investidor para filme, fora da realidade do mercado

André Miranda, José Meirelles Passos e Maiá Menezes

Analista do mercado cinematográfico, Paulo Sérgio de Almeida vê peculiaridades na maneira como foram captados os recursos para o filme ¿Lula, o filho do Brasil¿. Ele elogia o esforço, segundo ele bem-sucedido, dos produtores para que o filme não se tornasse ¿chapabranca¿, mas avalia que o fato de retratar a trajetória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve impacto decisivo na vitoriosa trajetória de arrecadação da produção ¿ até agora, 90% dos R$ 12 milhões previstos para a realização.

¿ O Lula tem uma mágica, um carisma que ultrapassou o simples fato de ele ser presidente da República. E a história dele é uma história dramática.

Que dá filme. Mas é claro que (os produtores) não conseguiriam o recurso dessa forma se Lula não fosse o personagem principal. O mercado não remunera um produtor de uma maneira fácil. Todo mundo sabe disso. Nem aqui nem em nenhum lugar do mundo ¿ avalia Paulo Sérgio.

Ele afirma que, no setor, ¿uma das coisas mais difíceis¿ é o financiamento direto de empresários, sem incentivos.

Para o analista, a captação de recursos funcionou porque grande parte dos empresários optou por associar o nome a um governo popular: ¿ Muitos desses empresários devem ter se associado ao projeto para ligar seu nome ao de um presidente como o Lula, que tem 80% de aprovação nacional.

Quem não se sente atraído pelo sucesso? ¿ diz o analista, que não afasta a possibilidade de os recursos terem sido captados por meio de lobby: ¿ Pode se associar, sem dúvida, a uma espécie de lobby.

Mas prefiro o aberto do que o fechado ¿ afirma Paulo Sérgio, ressaltando que ¿o ideal seria que o filme não fosse lançado em ano de eleição¿.

A expectativa do mercado de cinema é que o filme ultrapasse os 5 milhões de expectadores ¿ o que o colocaria entre as maiores bilheterias do cinema nacional. O publicitário Washington Olivetto diz ter dúvidas de que o lançamento em ano eleitoral garanta a transferência de popularidade para o candidato do PT: ¿ O Lula já está incorpora do ao universo pop há algum tempo. Mas tenho dúvida se essa popularidade pode ser transferida para outra pessoa, ou se é um patrimônio pessoal dele. Da mesma maneira que ele ficou imune às críticas que se fizeram ao PT nos últimos anos, talvez os elogios não possam ser transferidos para outra pessoa ¿ disse.

O fato de quatro empresas terem investido, mas não quererem associar o nome à produção é visto como algo usual pela produtora Mariza Leão, do filme ¿Meu nome não é Johnny¿.

¿ É comum o investidor não querer seu nome nos créditos de um filme. Motivo? Ele pode estar buscando apenas um retorno financeiro, e não de marketing. Ou não quer ver seu nome, ou o da empresa, vinculado a um determinado tema, a um determinado tipo de filme: o que interessa para ele é o resultado financeiro que a película vai produzir ¿ explica a produtora.