Título: Número de habitantes pode estar perto do limite
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 19/11/2009, Ciência, p. 38

Autor de relatório da ONU, no entanto, é contra a imposição do controle da natalidade às mulheres

ENTREVISTA Robert Engelman

CIDADE DO MÉXICO. Principal autor do relatório Situação da População Mundial 2009, o jornalista americano Robert Engelman diz que o planejamento familiar não é uma ação de curto prazo para conter emissões.

Morador de Washington, ele é vice-presidente do Instituto Worldwatch, entidade de pesquisa ambiental. Na semana passada, Engelman apresentou o relatório a jornalistas da América Latina reunidos pelo UNFPA na Cidade do México.

O GLOBO: O planeta teria 6,8 bilhões de habitantes. O planeta ainda suporta mais gente? ROBERT ENGELMAN: Talvez haja um número máximo. Mas creio que é impossível saber e não vale a pena discutir. Pode ser que já sejamos insustentáveis, porque o clima já mudou, a água, a biodiversidade.

E aí, o que podemos fazer? Não vamos matar ninguém, não vamos controlar a reprodução das mulheres.

Embora o relatório deixe claro que é contra o controle populacional, existe o risco de ele ensejar um malthusianismo ecológico? ENGELMAN: Sim, já há um público dizendo que o problema é a população.

Para mim, é óbvio: é quase impossível dizer que não há relação nenhuma entre o crescimento da população e a mudança climática.

O desafio é compreender, desagregar a complexidade das múltiplas causas e efeitos. Algumas têm a ver com população, outras com tecnologia, com estilo de vida.

Há que se falar, discutir.

O senhor é favorável à legalização do aborto? ENGELMAN: A questão legal do aborto não tem nada a ver com meio ambiente e clima. É possível que, com o aborto legalizado, tenhamos menos nascimentos. Mas temos que separar os assuntos.

Que peso deve ter o planejamento familiar num país decidido a cortar e emissões? ENGELMAN: Se você quer fazer diferença imediata nas emissões, planejamento familiar não é o investimento.

Ações que rendem efeitos imediatos envolvem carros mais eficientes, plantas de energia nuclear ou eólica, contenção do desflorestamento.

O Brasil tem meta voluntária de redução de emissões entre 36,1% e 38,9%, até 2020. O que o senhor acha da proposta? ENGELMAN: Vale bastante que um país tão grande, tão importante, tendo a Floresta Amazônica, declare uma meta assim. É um passo muito importante. Ademais, o percentual é bastante grande, maior do que o do Japão, que tem uma declaração similar. (DW)