Título: No azul, após18 meses
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2009, Economia, p. 11

Graças ao reforço das exportações, a conta de transações correntes fecha abril com superávit de US$ 146 milhões, o primeiro saldo positivo desde outubro de 2007. O resultado, no entanto, pode não se manter

Depois de 18 meses no vermelho, o saldo em transações correntes ¿ que inclui o resultado da balança comercial, mais o setor de serviços e as transferências unilaterais ( dinheiro que os brasileiros enviam do exterior) ¿ registrou em abril superávit de US$ 146 milhões. Em igual mês do ano passado, esse item do balanço de pagamentos tinha sido deficitário em US$ 3,044 bilhões. No acumulado de janeiro a abril, o déficit em transações correntes caiu de US$ 13,304 bilhões em 2008 para US$ 4,874 bilhões este ano.

Para o chefe do departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, esse resultado, embora interrompa uma longa sequência de déficits, não vai se manter. ¿Não significa uma mudança de tendência para ano, quando devemos ter meses deficitários e meses superavitários¿, disse. Para maio, por exemplo, Lopes espera um déficit em conta corrente de US$ 2,3 bilhões, devido à piora da balança comercial e, também, de um volume maior de recursos remetidos a título de lucros e dividendos na comparação com abril.

Em abril, aliás, as transações correntes devem seu número positivo ao excelente desempenho da balança comercial, acima da média dos meses anteriores. No último mês, o superávit da balança comercial foi de US$ 3,712 bilhões. Em abril de 2008, as exportações tinham superado as importações em US$ 1,738 bilhão. Também contribuiu para o ajuste das transações correntes a menor remessa de lucros e dividendos.

No ano passado, elas pesaram significativamente sobre as contas externas do país. Em abril de 2008, por exemplo, as remessas foram de US$ 3,696 bilhões, tendo diminuído para US$ 1,716 bilhão em abril último.

Nos quatro primeiros meses do ano, a remessa de lucros e dividendos caiu US$ 7,10 bilhões em relação ao mesmo período de 2008. Foi basicamente essa queda, segundo Lopes, que fez despencar o déficit em transações correntes no acumulado de 2009 em comparação a igual período de 2008. Para 2009, Lopes revisará em junho a projeção de déficit em transações correntes de US$ 16 bilhões no acumulado do ano.

Investimentos diretos Altamir Lopes chamou a atenção para a dinâmica do investimento direto, que vem se mantendo em meio à crise. Em abril, por exemplo, US$ 3,409 bilhões ingressaram no país para ficar durante um bom tempo, representando o maior volume de recursos desde dezembro de 2008. Para maio, Lopes estima o ingresso de US$ 2,6 bilhões em investimentos diretos.

E não são apenas os investidores de longo prazo que estão mandando recursos para o Brasil. Os investidores estrangeiros voltaram a trazer dólares para investimentos de curto prazo, como ações e renda fixa. Em abril, eles aplicaram US$ 630 milhões em ações no mercado brasileiro. Até ontem, esse investimento alcança US$ 2,365 bilhões. É o maior volume de recursos para ações desde abril de 2008 (US$ 5,8 bilhões).

Além do mercado acionário, os estrangeiros também trazem recursos para aplicar em renda fixa, que totaliza, em maio, até ontem, US$ 811 milhões. No acumulado do ano, o investimento estrangeiro em ações está positivo em mais de US$ 600 milhões, enquanto a renda fixa acumula saída líquida de US$ 1,589 bilhão.

Em relação ao fluxo cambial, pela primeira vez no ano, em maio, o volume de dólares voltou ao patamar pré-crise. Na parcial do mês, até o dia 22, o saldo está positivo em US$ 3,08 bilhões, resultado do ingresso de US$ 1,454 bilhão nas transações comerciais e de US$ 1,632 bilhão nas operações financeiras.