Título: Lula minimiza polêmica sobre o encontro
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 23/11/2009, O Mundo, p. 17

Em nome da paz, presidente propõe jogo da seleção contra combinado Israel-Palestina

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou minimizar a polêmica em torno da visita ao país do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, hoje. Lula preferiu explorar o gesto feito pelo Brasil para tentar influenciar o processo de paz no Oriente Médio. E propôs o que chamou de ¿jogo da paz¿: uma partida da seleção contra um combinado Israel-Palestina.

Lula ressaltou os encontros que teve na semana passada com o presidente de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e disse que a visita de Ahmadinejad está dentro do contexto de conversar com todos os atores da região para tentar estabelecer a paz.

¿ Fico extremamente feliz que o Brasil possa, num espaço de 10 a 15 dias, receber o presidente de Israel, o presidente da Autoridade Palestina e o presidente do Irã. Isso mostra a diversidade das relações internacionais do Brasil. Com todos vou conversar sobre a mesma coisa: conversei sobre paz com o presidente Shimon Peres, conversei sobre paz com o Mahmoud Abbas e vou conversar sobre paz com o Ahmadinejad ¿ disse Lula.

Lula disse que conhece os problemas da região e que é necessário identificar quem não quer a paz.

¿ Nós sabemos quem quer a paz no Oriente Médio. O povo quer a paz e alguns governantes querem a paz. O que precisamos detectar agora é quem não quer a paz. A quem interessa que não haja paz no Oriente Médio? Alguém está ganhando com isso. E é esse alguém que está ganhando com a não existência de paz no Oriente Médio que nós precisamos colocar para escanteio e conversar com aqueles que querem construir a paz.

¿Jogo da paz¿ foi proposto a Peres e Abbas O presidente acredita que uma partida de futebol pode ser o pontapé inicial para selar a paz entre palestinos e israelenses. Os dois lados vivem em conflito permanente, com milhares de mortos de ambas as partes, desde a criação do Estado de Israel, em 1948.

A exemplo do que fez no Haiti em agosto de 2004, Lula está disposto a promover um jogo entre a seleção brasileira e um combinado de jogadores palestinos e israelenses. O local da partida seria um campo neutro.

A ideia foi apresentada a Peres e a Abbas. De acordo com o presidente, os dois gostaram da proposta e ficaram de discutir melhor o assunto.

Para a efetivação do jogo, no entanto, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) terá de encaixar a partida no calendário de 2010, ano da Copa.

¿ Vou à região entre os dias 10 e 16 de março e estamos trabalhando com a ideia de fazer um jogo da paz, como fizemos no Haiti ¿ declarou o presidente, dizendo que os dois países demonstraram disposição de montar uma seleção mista. ¿ Se derem colher de chá, até eu posso jogar de centroavante. Poderia ser meia armador ¿ brincou Lula.

O presidente defendeu que os Estados Unidos tenham uma ação mais ativa na região para buscar a paz.

¿ É preciso que as grandes potências, países como os Estados Unidos, também tenham uma ação mais positiva, mais construtiva. Se a gente conseguir fazer com que a paz no Oriente Médio não seja uma primazia dos Estados Unidos ou de outro país, mas que seja uma decisão das Nações Unidas e, com base nisso, todos os países do mundo trabalharem para construir a paz, nós estaremos tranquilos.

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, também defendeu a aproximação entre Brasil e Irã. Para ela, esse diálogo é reflexo do papel que o país passou a desempenhar no mundo.

¿ A gente tem que se acostumar com a presença mais forte do Brasil no cenário internacional. Quanto mais forte for nossa presença, mais vamos ser instados a contribuir para solucionar conflitos, para resolver pendências, para dar posições em relações às grandes questões internacionais ¿ declarou.

Dilma vê a presença do presidente iraniano no país como um sinal da relevância do Brasil no cenário internacional: ¿ Ninguém antes queria saber nossa opinião sobre o conflito árabeisraelense, nem pedia para a gente uma posição no sentido de construir a paz no Oriente Médio. É importante que o Brasil assuma esses papéis que cada vez mais serão dele.