Título: Lula não jogou a toalha sobre unificar aliados
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 24/11/2009, O País, p. 3

Favorito para o comando do PT, Dutra admite, porém, que há divisões irreversíveis nos estados

ENTREVISTA

Provável novo presidente do PT, o ex-senador e ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra evita cantar vitória antes do tempo, mas analisa sua possível eleição, já no primeiro turno, como evidência de que a disputa interna no PT não dificultará a construção de palanques fortes para a ministra Dilma Rousseff.

Nega que o presidente Lula tenha desistido de unir os aliados em torno de Dilma, mas reconhece que essa divisão é irreversível em alguns estados. Sobre o Rio, reafirma que o caminho natural é apoiar a reeleição de Sérgio Cabral (PMDB) e que candidatura própria não depende ¿só da vontade de Lindberg (Farias, prefeito de Nova Iguaçu)¿.

Maria Lima BRASÍLIA

O GLOBO: O presidente Lula declarou que é difícil para Dilma trabalhar com dois palanques nos estados, mas que em alguns casos isso deve acontecer...

JOSÉ EDUARDO DUTRA:Há uma leitura errada da declaração do presidente. O Lula não jogou a toalha em relação a trabalhar para unificar o PT com aliados na maior parte dos estados. Ele constatou uma realidade. Sabemos que em alguns estados não tem jeito. No Rio Grande do Sul, em Pernambuco e em Mato Grosso do Sul, o PT não deve compor com o PMDB e outros aliados. No Rio, por exemplo, ainda vamos trabalhar para unificar. Se não for possível, paciência.

Como convencer Lindberg Farias a desistir de sua candidatura? DUTRA:No Rio, o caminho natural é o PT ir junto com o Sérgio Cabral. O PT faz parte do governo e ajudou a eleger o governador. Isso não depende só da vontade do Lindberg, depende da militância. E vai ter segundo turno para o diretório estadual.

Portanto, temos aí pela frente um longo processo de debates. Em se tratando de política, dois dias é uma eternidade.

Em Minas e Mato Grosso do Sul também pode ter palanque duplo? DUTRA:Em Minas Gerais, o primeiro passo é afunilar as candidaturas do Fernando Pimentel e do Patrus Ananias. Depois temos que conversar com o PMDB para ver uma possível composição. Não acredito que o Hélio Costa vá se unir ao Aécio. Ele é ministro do governo Lula.

E em Mato Grosso do Sul? DUTRA: Lá a situação é diferente.

É um caso polêmico porque o PT sempre foi adversário histórico do PMDB no estado. O Zeca (do PT, ex-governador) pode sair candidato, e aí se formarão dois palanques para a Dilma. Se o Puccinelli ( André, governador do PMDB) resolver apoiar o Serra, paciência.

Em São Paulo, Marta Suplicy defende candidatura própria e rechaça o apoio a Ciro Gomes para o governo do estado. Como resolver esse impasse? DUTRA:É outro estado onde primeiro temos que afunilar as candidaturas do PT. Quem tem seis candidatos não tem nenhum. Temos que nos sentar e conversar pacientemente, sem vetos. Se o PSB quiser lançar o Ciro, o PT não pode vetar.

Teremos que sentar e ver qual a melhor alternativa. São Paulo é estratégico, é onde temos que tentar quebrar o domínio de vários anos do PSDB.

E o que fazer com os mensaleiros que se elegem para a direção do PT na sua chapa? DUTRA:Que mensaleiros!! Eu me recuso a aceitar esse nome! São todos militantes em pleno gozo de seus direitos políticos, que tiveram uma atuação importante para o PT e para a construção da democracia brasileira. Temos que ver primeiro o resultado da votação, ver o tamanho de cada chapa, para depois decidir quem vai para a Executiva ou Diretório. É impossível antecipar qualquer nome para a Executiva agora.

Mônica Valente, esposa do Delúbio, está em sua chapa. Ele volta para o PT? DUTRA:Quem foi expulso do PT foi o Delúbio, não foi a Mônica, que já é da Executiva e foi secretária da Marta (Suplicy). O Delúbio ia pedir para voltar ao PT e desistiu. Não vou trabalhar com hipótese. Mas se ele pedir para voltar, vamos analisar