Título: Toda sujeira será castigada
Autor: Bastos, Isabela
Fonte: O Globo, 24/11/2009, Rio, p. 12

Paes critica cariocas que emporcalham o Rio e anuncia plano para reduzir gastos com limpeza

Oprefeito Eduardo Paes afirmou ontem que pretende combater os sujismundos propondo uma meta de limpeza para os cariocas dentro do planejamento estratégico do Rio, que será anunciado em 7 de dezembro. Segundo o prefeito, a Comlurb gasta R$900 milhões por ano, sendo que 60% desse dinheiro são usados na faxina de ruas e outros lugares públicos, como as praias. Ele confirmou que suspendeu a medida da Secretaria de Meio Ambiente (SMA) que previa a proibição da venda de coco verde pelos barraqueiros nas praias, como informou Ancelmo Gois em sua coluna.

¿ O coco não é o problema. Proibir o coco é tirar o bode da sala. A Avenida Rio Branco é varrida cinco vezes por dia. Isso é uma vergonha e um escândalo. Em qualquer cidade minimamente civilizada, isso não existe. A praia é só um exemplo. Vamos lançar o plano estratégico com metas para o governo até 2012. Mas precisamos de uma meta para a população e podia ser reduzir os gastos da Comlurb com o lixo público. O povo precisa ter mais educação, higiene, respeito com o espaço público ¿ disse Paes à CBN.

Mais tarde, em entrevista ao GLOBO, Paes disse que a meta de limpeza será atrelada a investimentos. O que deixar de ser usado pela Comlurb na limpeza será aplicado em obras, sobretudo na área de saúde. O prefeito afirmou que, se o apelo pela limpeza não funcionar, não descarta retomar a ideia de proibir o coco. Ele, que alegou ter sabido da intenção da SMA quando estava em viagem ao exterior, chamou de ¿porcos¿ os banhistas que deixam um rastro de sujeira. E lançou um desafio: o de a população diminuir o lixo nas praias já no próximo fim de semana. Paes apelou aos cariocas para que tomem a iniciativa de jogar as sobras nas lixeiras:

¿ As pessoas têm que ser menos porcas e parar de jogar coisas na areia. Vamos fazer o seguinte: no próximo fim de semana de praia lotada, ninguém joga o coquinho na areia. Leva para o lixo. Senão, o coco será proibido de novo, como castigo.

Secretário vai dar explicações a Paes

A proibição havia sido anunciada pelo Comitê Gestor da Orla e confirmada pelo secretário de Meio Ambiente e vice-prefeito, Carlos Alberto Muniz. Ontem, ele disse que a proibição não tinha como foco principal a questão do lixo, mas sim a saúde dos banhistas. Segundo o secretário, como as barracas não têm ligação de água corrente, não há como garantir um manuseio adequado de alimentos:

¿ Não era questão de lixo grande ou pequeno. O lixo a Comlurb tira.

Ainda segundo Muniz, o aspecto do lixo na areia era secundário, porque o novo padrão de barracas que será adotado na orla já disporá de contêineres da Comlurb para separação dos detritos. Ele disse que vai procurar Paes para explicar sua ideia.

O assunto gerou polêmica entre os banhistas no fim de semana. Quem aproveitava a praia criticou a medida, que estava em fase de regulamentação e ia começar a valer em 1º de dezembro. De acordo com a Comlurb, as cascas de coco respondem por 60% do volume diário de lixo recolhido na areia ¿ os outros 40% são formados principalmente por material plástico. Na alta temporada, são retiradas de 60 a 70 toneladas das praias nos dias de semana; nos sábados e domingos, de cem a 180 toneladas.

Uma enquete feita pelo site do GLOBO sobre a proibição recebeu 1.553 votos. Quase 44% das pessoas responderam que são contrárias, porque é delicioso tomar água de coco na praia; 26% também não concordaram com a medida, já que o coco é biodegradável. Menos de 25% foram a favor, apoiando o argumento da sujeira que a fruta causa na praia; e 5% alegaram que o coco pode machucar as pessoas na areia.

COLABOROU Luiz Ernesto Magalhães