Título: Em Manaus, apagão quase diário
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 24/11/2009, Economia, p. 21

Indústrias da Zona Franca reclamam de prejuízos milionários

Enviada especial

MANAUS. Embora não tenha ficado às escuras há duas semanas, quando um blecaute atingiu 18 estados brasileiros, o Amazonas sofre um apagão silencioso quase diariamente.

O estado ainda não faz parte do sistema interligado do país e funciona aos trancos e barrancos com uma rede antiquada, praticamente manual. As 500 empresas da Zona Franca reclamam de prejuízos milionários ao setor industrial.

Não há uma conta feita pela indústria sobre o volume de perdas, mas todos concordam que este é um dos maiores gargalos da produção local. Uma grande empresa do ramo de CDs, DVDs e blue-ray disse que este é mais um custo com o qual precisa conviver e mostrou um relatório em que enumera os sucessivos cortes e parte dos prejuízos.

Só este ano, as interrupções de energia provocaram perdas de 156 horas na linha de produção de CDs e jogaram no lixo nada menos que 124.800 CDs. Em abril, as oscilações somaram 69 horas e 26 minutos.

Outros 90 mil DVDs foram perdidos, assim como 90 horas de produção.

¿ O polo industrial tem problemas com energia o tempo todo. A produção encarece. Muitas empresas usam geradores próprios e nobreaks para evitar que as oscilações prejudiquem a produção ou quebre seus equipamentos ¿ diz o diretorexecutivo do Centro da Indústria de Manaus, Ronaldo Mota, lembrando que várias empresas foram à Justiça contra a distribuidora local.

Flavio Decat, presidente da Amazonas Energia, responsável pela distribuição no Distrito Industrial, diz que as oscilações têm duas causas: a falta histórica de investimentos e as interrupções causadas pelas reformas.

A solução definitiva para a região, segundo ele, está na integração do estado ao sistema interligado nacional, a partir de 2011.

¿ Estamos trocando o pneu de um caminhão andando. Este ano, para cada quatro interrupções, uma foi por fatores não controláveis e três pelos trabalhos que não param ¿ disse, lembrando que os investimentos da empresa em dois anos chegam a R$ 2 milhões.

Um gerador com a capacidade de segurar uma fábrica em funcionamento por um minuto custa, em média, R$ 4 milhões, e um no-break robusto sai por cerca de R$ 1 milhão, segundo Mota. Para as empresas que não têm esses equipamentos, qualquer interrupção exige pelo menos quatro horas até o restabelecimento total da produção.

E as boas perspectivas econômicas daqui para frente podem pressionar ainda mais a rede de energia local.

¿ O problema não está na geração.

Temos energia de sobra.

Temos um dos sistemas de distribuição mais atrasados do país.