Título: Governo muda estratégia e abre caminho para Dilma ir ao Congresso
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/11/2009, Economia, p. 20

Convite para falar em comissão do Senado é proposto por Collor e aprovado

BRASÍLIA. Numa ação combinada com o novo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o presidente da Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado, Fernando Collor (PTBAL), comandou ontem à noite a aprovação ¿ numa sessão extraordinária esvaziada ¿ de requerimento convidando os ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Dilma Rousseff (Casa Civil) e mais 18 técnicos para prestarem esclarecimentos sobre a causa do blecaute que atingiu 18 estados no dia 10.

O requerimento foi proposto pelo próprio Collor. Ele antecipou, porém, que antes dos dois ministros, a comissão deverá ouvir primeiro os técnicos.

Com isso, o governo ganha tempo para que eles se preparem para um eventual embate com a oposição, apostando ainda no esfriamento do caso na mídia.

A primeira audiência foi marcada para 26 de novembro, com a justificativa de que nesta semana a CI teria de definir emendas para a proposta orçamentária da União de 2010. Na primeira etapa deverão ser ouvidos o diretor-presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner; o diretorgeral de Itaipu, Jorge Samek; o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp; o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara; o ex-presidente da Eletrobrás Luiz Pinguelli Rosa; e o ex-ministro José Goldemberg.

Ministra deve falar do racionamento de 2001 As demais audiências não têm data marcada. A aposta do governo é que elas possam até não acontecer, se os técnicos conseguirem esclarecer as dúvidas.

A oposição, porém, não está disposta a abrir mão da presença de Dilma e Lobão. Surpreendido com a ação de Collor, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), que havia apresentado requerimento semelhante, elogiou a iniciativa. Mas cobrou: ¿ Como gerente principal do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a ministra Dilma não podia continuar neste jogo de esconde-esconde só por causa de suas pretensões eleitorais.

Seria inútil ela tentar escapar de seus compromissos com o Congresso.

Fiquei agradavelmente surpreso com o gesto do presidente Collor. Agora temos de marcar a data da audiência.

Por precaução, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) pretende apresentar hoje na reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) um requerimento semelhante: ¿ A ideia é fazer uma reunião conjunta, para que ninguém tenha de vir mais de uma vez falar sobre o mesmo assunto.

A mudança de estratégia do governo em relação a Dilma foi comandada pelo próprio Palácio do Planalto, que no fim de semana cogitava mandar apenas Lobão para prestar esclarecimentos, antes mesmo da aprovação de qualquer convite. Mas prevaleceu a avaliação de que o desgaste poderia ser maior se houvesse demonstração pública de receio da convocação de Dilma para falar sobre o apagão.

Havia uma divisão no PT e no governo sobre a conveniência política de sua presença no Congresso, já que haveria uma associação direta da ministra com o apagão. Mas ganhou o grupo que defendia a presença da ministra, até para fazer uma disputa de projeto com a gestão energética no governo Fernando Henrique Cardoso, quando o Brasil teve racionamento.

Mesmo assim, agora, haverá cuidado para que ela evite o tom ¿mais duro¿ e ¿agressivo¿ da semana passada, durante uma entrevista sobre o apagão.

¿ A oposição achava que iríamos ficar contra a convocação da Dilma. Agora, ela vai para o Congresso e deve falar sobre tudo, inclusive do racionamento de 2001. A oposição deu um tiro no pé, quando apresentou o pedido para a convocação da ministra ¿ disse o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP).