Título: Declarações de Tarso irritam o Planalto
Autor: Menezes, Maiá; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 21/11/2009, O País, p. 3

Gerson BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem demonstrado contrariedade com a condução pública do pedido de extradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Para Lula, quanto mais Tarso fala sobre o episódio, mais cria problemas diplomáticos com a Itália e dificulta uma ação do governo brasileiro para manter Battisti no país.

Irritado, Lula já teria mandado recado para que Tarso seja cauteloso em suas manifestações.

A declaração do ministro de que há um ¿fascismo galopante¿ na Itália teria sido a gota d¿água para Lula, segundo um interlocutor do presidente.

A interlocutores com quem esteve ontem, na viagem a Salvador, Lula foi enfático ao dizer que neste momento é preciso serenidade para administrar todas as pressões. E que, por isso, a postura de Tarso atrapalhava a solução diplomática.

¿ Quanto mais o Tarso fala, mais fica difícil para o Lula manter o Battisti no Brasil ¿ resumiu um interlocutor do presidente.

A preocupação no Palácio do Planalto é de que as declarações de Tarso passem a ser interpretadas pelo governo italiano como uma provocação. Já há consenso no governo de que ele colocou Lula numa ¿saia justa¿ em vários momentos envolvendo o caso de Battisti.

No núcleo do governo, foi lembrado que, ao conceder refúgio político a Battisti, o ministro fez críticas à Justiça da Itália em sua fundamentação, alegando que o ex-ativista não teve direito a ampla defesa e de que havia insuficiência de provas.

Lula está convencido de que Tarso deveria ter se limitado a fundamentar a decisão alegando questões humanitárias, e não criticar um poder independente de outro país. A avaliação é a de que essa postura beligerante ampliou a reação do governo da Itália.