Título: Juízes concluem inspeção em cartório no Rio
Autor: Otavio, Chico; Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 21/11/2009, O País, p. 12

Foram recolhidos documentos nas duas sedes do 15o- Ofício de Notas e também na Corregedoria de Justiça

Os três juízes designados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para fazer uma inspeção no 15oOfício de Notas da Capital já concluíram a primeira etapa do trabalho. Depois de analisados os documentos e depoimentos colhidos no cartório e na Corregedoria de Justiça do Rio, não está descartada a hipótese de abertura de um processo administrativo disciplinar para o caso.

O CNJ decidiu inspecionar o cartório para investigar os motivos que teriam levado o corregedor-geral de Justiça do Rio, desembargador Roberto Wider, a determinar dias antes uma correição extraordinária no 15oOfício. Este cartório tinha um contrato que o obrigava a repassar 14% de sua renda bruta mensal ao escritório do lobista Eduardo Raschkovsky, mas o pagamento fora suspenso. Wider e Raschkovsky são amigos.

Na Corregedoria, os três juízes designados pelo CNJ recolheram todos os atos administrativos e inspeções praticadas por Wider no último ano.

Eles também ouviram depoimentos.

Roberto Wider está licenciado do cargo por 30 dias desde o dia 19 deste mês.

Série mostra relação entre Wider e Raschkovsky Em nota divulgada por meio da assessoria de comunicação da Corregedoria de Justiça, o desembargador afirmou que o objetivo do afastamento foi permitir ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça ¿que faça uma completa investigação, livre de qualquer ordem de dificuldade que a minha investidura à frente da Corregedoria Geral pudesse de algum modo representar¿.

A saída temporária do desembargador Roberto Wider ocorreu um dia depois de a reportagem do GLOBO mostrar as nomeações feitas por ele, em março deste ano, de dois advogados ligados ao escritório L. Montenegro Advogados Associados para os cargos de oficiais de cartórios do Rio de Janeiro e de São Gonçalo. Alexandre de Paula Ruy Barbosa assumiu o 11oOfício de Notas da Comarca da Capital e Carlos Roberto Fernandes Alves, o 6oOfício de Justiça da Comarca de São Gonçalo. O escritório é administrado por Raschkovsky.

Com o afastamento, o Conselho da Magistratura criou uma comissão, formada por cinco desembargadores, para investigar o envolvimento do corregedor licenciado no caso. Wider disse, em nota, que nada teme: ¿Repudio, uma vez mais, o teor insano e calunioso dessas reportagens com minha máxima veemência e desassombro¿.

A série de reportagens publicada pelo GLOBO desde o último dia 8 revela as relações perigosas envolvendo Roberto Wider e Eduardo Raschkovsky.

O lobista é acusado de vender sentenças a políticos nas eleições de 2006 e 2008, usando uma rede de relações no judiciário fluminense, entre elas a sua amizade com Wider, que também foi presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, receberá nos próximos dias um ofício contendo as denúncias sobre o envolvimento de Roberto Wider com o lobista Eduardo Raschkovsky. A iniciativa partiu da Procuradoria Regional da República no Rio