Título: Ao lado de Abbas, críticas a Israel
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 21/11/2009, O Mundo, p. 28

Lula repudia anúncio sobre expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia

Os presidentes brasileiro e da Autoridade Nacional Palestina (ANP) repudiaram ontem o anúncio de Israel sobre a construção de 900 novas casas em território ocupado, na Cisjordânia. Luiz Inácio Lula da Silva e Mahmoud Abbas foram veementes ao tratar do tema, lado a lado, durante entrevista coletiva, pela manhã, no Museu da Santa Casa da Misericórdia, no Centro Histórico de Salvador. Eles assinaram um protocolo de intenções para cooperação técnica entre o Ministério de Relações Exteriores e o Ministério de Negócios Estrangeiros da ANP.

¿ O Brasil entende que deva parar imediatamente qualquer novo assentamento no território palestino ¿ disse o presidente brasileiro, que, minutos antes, em seu discurso, falara espontaneamente sobre o tema. ¿ A expansão dos assentamentos na Cisjordânia deve ser congelada. As fronteiras do futuro Estado palestino devem ser preservadas.

À noite, Lula foi ainda mais incisivo.

¿ Abbas luta contra a tirania daqueles que mantêm o povo segregado e confinado ¿ disse Lula, em discurso na Praça Castro Alves.

Na véspera, o presidente dos EUA, Barack Obama, um dos maiores aliados de Israel, também havia criticado Israel pela expansão do assentamento, dizendo se tratar de uma decisão perigosa e que não contribui para o processo de paz. Ontem, o presidente da ANP fez coro sobre os efeitos da expansão para o processo de paz: ¿ Se continuar construindo na capital palestina, Israel está complicando a paz, quer que nos distanciemos da paz. Pedimos não apenas a retirada das 900 casas, mas de todas as atividades de construção nos territórios ocupados. Essas palavras não são nossas. Foram ditas também pelo presidente Obama ¿ disse Abbas, lembrando que há ¿mais de 15 resoluções da ONU contrárias às construções¿ e que ¿Israel se comprometeu a cumprir o acordo de que teria que suspender as construções¿.

Apontado por Abbas como um governante com ¿respeito internacional¿ para interceder pela paz na região, Lula, que se encontra segundafeira com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que é hora de ¿jogar no convencimento das personalidades de cada país que são contra a paz no Oriente Médio¿: ¿ As pessoas que estão praticando esse conflito são minoritárias, eu diria sectárias. O Brasil tem todo o interesse em ajudar, em conversar com quem quer que seja, porque eu acho que ninguém pode ter primazia de negociar a paz entre palestinos e judeus. Todos, do menor país do mundo, ao maior país do mundo, precisam colocar nas suas prioridades a negociação da paz no Oriente Médio ¿ disse Lula em entrevista.

Líder palestino destaca experiência brasileira

No discurso que leu ao lado de Abbas, o tom de Lula foi semelhante. Ele afirmou que o processo de paz no Oriente Médio se beneficiará da contribuição de outros países ¿além dos que tradicionalmente estiveram envolvidos¿.

E defendeu que uma paz ¿justa e duradoura¿ na região depende do fortalecimento ¿próspero, coeso e sem restrições¿ de um Estado palestino.

Segundo Lula, a situação humanitária na Faixa de Gaza é ¿insustentável¿.

¿ Aqueles que se amparam em dogmas inabaláveis semeiam a discórdia e fomentam na verdade a permanência do conflito ¿ afirmou Lula, que lembrou o encontro da semana passada com o presidente de Israel, Shimon Peres.

Em retribuição, Lula também foi elogiado por Abbas em seu discurso: ¿ A experiência que o senhor (Lula) tem é uma experiência da qual o mundo se orgulha. O seu país mostra a convivência de todos os povos, sem olhar cor, sexo ou religião. Esperamos ter essa experiência, que o povo palestino possa viver na pátria deles em paz, independente ¿ disse Abbas. ¿ Vossa Excelência nos dá um pouco de seu tempo valioso para colaborar na construção da paz. Agradecemos o apoio não somente econômico e humano, mas também político.

Vossa excelência está mais do que preparado para desenvolver esse papel. Presidente Lula, o senhor tem respeito internacional. O mundo pode tirar proveito disso. E nós também.

Segundo o presidente brasileiro, um futuro acordo Mercosul-Palestina ajudará a reforçar vínculos entre as duas regiões.

Hoje, Abbas viaja ao Rio Grande do Sul, onde visitará a maior comunidade palestina no país.

Segundo o presidente da Federação Árabe Palestina no Brasil, Elayyan Taher Aladdin, são cerca 25 mil palestinos radicados no território gaúcho. Ele jantará com integrantes da comunidade palestina e, no domingo, os anfitriões desejam levá-lo para comer um típico churrasco gaúcho. Depois, viajará para a Argentina