Título: Jogada presidencial
Autor: Pereira, Daniel; Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2009, Política, p. 2

Na tentativa de amenizar tensão entre petistas e peemedebistas na CPI da Petrobras, Lula autoriza líderes governistas a abrir negociações para deixar PT de fora do comando da comissão parlamentar

Jucá com a líder do governo Ideli Salvatti: peemedebista é cotado para relatar CPI da Petrobras

José Varella/CB/D.A Press - 17/10/07 ¿Temos que investigar os gestores do governo FHC, o acidente da Plataforma P-36 e outros acidentes gravíssimos que aconteceram¿ João Pedro, senador do PT do Amazonas e integrante da CPI da Petrobras Com a autorização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, governistas do Senado discutem a possibilidade de deixar o PT de fora da relatoria e da presidência da CPI da Petrobras. A ideia foi colocada sobre a mesa de negociação como forma de ajudar nos esforços para ¿distensionar¿ a relação entre petistas e peemedebistas. Além disso, serviria para aumentar a responsabilidade de outras legendas aliadas nos esforços para impedir que a investigação parlamentar atinja o Palácio do Planalto. A proposta prevê que o relator da comissão seja o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), considerado um dos quadros mais talhados na arte de desatar nós, sejam relacionados à tramitação de matérias, sejam a denúncias, contra o governo ou contra ele mesmo.

Já o presidente da CPI da Petrobras seria o senador Inácio Arruda (CE). Tendo como cabo eleitoral, entre outros, o deputado cassado e ex-ministro José Dirceu (PT), Arruda é do PCdoB, sigla que controla a Agência Nacional do Petróleo (ANP), um dos alvos da apuração. Além dessa credencial, tem como trunfo o fato de ser um parlamentar combativo e fiel a Lula, capaz de ¿matar no peito¿ determinados desgastes a fim de livrar o governo de tal ônus. ¿Ele também tem mais seis anos de mandato¿, disse outro cacique petista defensor de Arruda, a fim de mostrar que o colega terá tempo de sobra para reverter eventuais desgastes de imagem durante a comissão.

Discutida ontem em conversas reservadas, a dobradinha Arruda-Jucá é uma alternativa ao plano alardeado em público. No caso, o senador João Pedro (PT-AM) na presidência e Jucá na relatoria. Pedro não chegou por meio de voto à Casa. Assumiu uma cadeira depois de Alfredo Nascimento (PR-AM) se licenciar do mandato para comandar o Ministério dos Transportes. ¿Acho que temos de ir no passado. Eu defendo isso¿, afirmou o petista. ¿Temos que investigar os gestores do governo Fernando Henrique, o acidente da Plataforma P-36 e outros acidentes gravíssimos que aconteceram no governo anterior.¿

Pacificação Ontem, Lula recebeu, no Centro Cultural Banco do Brasil, o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP). Discutiram estratégias de atuação na CPI e em votações no plenário. A conversa foi uma espécie de afago ao petista, já que, no dia anterior, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), convencera Lula a deixar Mercadante de fora da comissão. Os dois senadores têm diferenças pessoais irreconciliáveis. A ambos, o presidente pediu que não deixem a rivalidade pessoal prejudicar a base aliada. A Petrobras já encaminhou um documento a parlamentares governistas com respostas contra as denúncias que recaem sobre a empresa.

O texto rebate a acusação de manobra contábil da Petrobras destinada a evitar o pagamento de R$ 4,3 bilhões em tributos no ano passado. Rechaça a auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) que apontou indícios de superfaturamento na obra da Refinaria Abreu e Lima. E apresenta defesa no caso da Operação Águas Profundas, da Polícia Federal, que investigou contratos de reformas de plataformas da estatal em 2007.

-------------------------------------------------------------------------------- Colaborou Luiz Carlos Azedo

Quem é quem

Confira o perfil dos integrantes da CPI

Os governistas

Romero Jucá (PMDB-RR)

O líder do governo no Senado é um coringa do Planalto, mas anda se estranhando com o líder da bancada, Renan Calheiros (PMDB-AL). É afilhado político do presidente do Senado, José Sarney.

Paulo Duque (PMDB-RJ)

Octogenário, é um experiente político. Foi deputado estadual por oito mandatos, um deles na Constituinte da fusão dos antigos estados da Guanabara e Rio de Janeiro, na década de 1970. Assumiu a vaga do governador Sérgio Cabral, de quem é aliado incondicional.

Leomar Quintanilha (PMDB-TO)

Homem de confiança de Renan Calheiros, presidiu o Conselho de Ética do Senado durante os dois processos de cassação enfrentados pelo líder do PMDB.

Valdir Raupp (PMDB-RO)

O ex-líder do PMDB ocupa a primeira suplência do PMDB na comissão e faz parte da maioria governista, mas tem interlocução própria com o governo.

Almeida Lima (PMDB-SE)

Atual presidente da Comissão Mista de Orçamento, é o segundo suplente do PMDB. Faz parte da tropa de choque de Renan, mas tem seus próprios interesses em Sergipe, estado governado pelo PT.

Ideli Salvatti (PT-SC)

A nova líder do governo no Congresso é considerada pelo Planalto a mais combativa integrante da bancada no Legislativo. Foi um esteio do governo em todas as CPIs nas quais atuou.

João Pedro (PT-AM)

Suplente em exercício do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento(PR-AM), conquistou a cadeira no Senado graças a um acordo tecido pelo presidente Lula, de quem é amigo desde os tempos de sindicalista.

Inácio Arruda (PCdoB-CE)

Entrou na CPI a pedido do PCdoB, com a tarefa específica de defender a Agência Nacional do Petróleo (ANP), presidida pelo ex-deputado comunista Haroldo Lima.

Marcello Crivella (PRB-RJ)

Primeiro suplente do bloco PT, PTB, PSB, PP, PR, PRB na comissão, é aliado incondicional do presidente Lula.

Delcídio Amaral (PT-MS)

Segundo-suplente do bloco governista na CPI, foi diretor da Petrobras. Não se entende com o líder do PT Aloizio Mercadante, mas é o mais preparado para defender a empresa.

Gim Argello (PTB-DF)

Suplente do PTB na Comissão, assumiu a vaga do ex-governador Joaquim Roriz (PMDB-DF). Estreante no Senado, hoje é um dos parlamentares mais influentes do grupo Sarney-Renan, que controlará a CPI.

A oposição

Álvaro Dias (PSDB-PR)

O ex-governador do Paraná é o mais experiente oposicionista em atuações na CPI. Deve centralizar a apuração paralela que os tucanos pretendem fazer para furar o bloqueio dos governistas.

Sérgio Guerra (PE)

Presidente do PSDB, o parlamentar pernambucano será o responsável pelo ¿equilíbrio¿ da oposição nas investigações. É o principal interlocutor da legenda no mundo empresarial ligado ao petróleo.

Tasso Jereissati (PSDB-CE)

Será o suplente do PMDB. Ex-governador do Ceará e um dos maiores empresários do Nordeste, é um político que gosta de confrontos.

ACM Junior (DEM-BA)

Filho do falecido senador Antônio Carlos Magalhães, cuja vaga assumiu como suplente, não é homem de confrontos. Foi indicado pelo DEM para presidir a CPI, mas esse acordo com os governistas foi vetado pelo presidente Lula.

Heráclito Fortes (DEM-PI)

Suplente da legenda na comissão, o primeiro-secretário da Mesa do Senado é um dos parlamentares mais bem informados e poderosos do Congresso. Vive às turras com os petistas.