Título: Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo, aos 63
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Fonte: O Globo, 22/11/2009, Rio, p. 29

SÃO PAULO. Em 31 de dezembro de 2000, quando deixou a Prefeitura de São Paulo, Celso Pitta era réu em 13 processos na Justiça, a maior parte deles por irregularidades em sua gestão.

Denúncias de superfaturamento de obras e desvios de recursos públicos foram a marca de seu mandato à frente da Prefeitura, iniciado em janeiro de 1997 e terminado em dezembro de 2000. Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pitta estreou na política pelas mãos do ex-prefeito Paulo Maluf.

Após trabalhar como diretor financeiro das empresas da família Maluf, Pitta foi nomeado para a Secretaria municipal de Finanças, cargo que ocupou de 1993 a 1996, durante a gestão de Maluf. Até então pouco conhecido dos paulistanos, Pitta acabou lançado pelo então prefeito candidato a sua sucessão.

Na campanha, comandada pelo publicitário Duda Mendonça, tornouse célebre a declaração de Maluf na TV, ao pedir votos para Pitta: ¿Se ele não for um grande prefeito, nunca mais votem, em mim¿. Dois anos depois, ao disputar o governo estadual, Maluf voltaria à TV para dizer que Pitta não estava fazendo um bom governo.

Nascido no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1946, Celso Roberto Pitta do Nascimento foi o segundo prefeito negro da cidade de São Paulo ¿ o primeiro fora o advogado Paulo Lauro (1947 a 1948).

Eleito com 3,1 milhões de votos pelo PPB (atual PP), ao assumir a Prefeitura, em 1ode janeiro de 1997, Pitta já era acusado de desvios em operações com precatórios na época em que era secretário. Em sua gestão, estourou o escândalo dos fiscais da prefeitura, que cobravam propina de camelôs e repassavam o dinheiro a vereadores com cargos na administração municipal.

Dois deles ¿ Hanna Garib e Vicente Viscomi ¿ foram presos e perderam os mandatos. Em meio a uma grave crise política, em março de 2000 Pitta foi acusado por sua ex-mulher, Niceia Camargo, de comprar vereadores que investigavam sua gestão numa CPI.

Pitta chegou a ser afastado do cargo entre 26 de maio e de 13 de junho de 2000, quando retomou o mandato por decisão da Justiça. Por duas vezes, em 2002 e em 2006, tentou se eleger deputado federal pelo PTB, mas não conseguiu.

Em julho de 2008, foi preso durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, por suposto envolvimento com o investidor Nagi Nahas em remessas ilegais de divisas para o exterior.

Foi libertado dois dias depois, por decisão do Supremo Tribunal Federal.

No fim de 2008, Pitta teve a prisão decretada por não pagar pensão a sua ex-mulher, Niceia. Em março deste ano, foi condenado a pagar R$ 150 mil em pensões atrasadas. Como não foi encontrado para ser notificado, tornou-se foragido da Justiça.

Depois, apresentou-se e cumpriu prisão domiciliar de um mês.

Em dezembro de 2008, Pitta descobriu que tinha câncer no intestino. Em janeiro, foi operado para para remoção de tumores e passou a submeterse a sessões de quimioterapia. Segundo sua atual mulher, Roni Golabek, a doença se alastrou até o fígado. No dia 3 deste mês, Pitta foi internado na Hospital Sírio-Libanês, onde morreu sextafeira à noite, aos 63 anos. O ex-prefeito tinha dois filhos: Roberta, que mora nos EUA, e Victor. Sobre a morte de seu ex-afilhado político, Maluf limitouse a enviar um telegrama dando os pêsames aos familiares. O prefeito Gilberto Kassab, que foi secretário de Planejamento na gestão de Pitta, também não compareceu ao velório, e foi lacônico sobre a sua morte.

¿ Meus votos de pesar à família e aos amigos em um momento que todos nós sabemos que é muito difícil.

O velório de Pitta ocorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo, por onde passaram ontem cerca de 600 pessoas. O corpo de Pitta foi sepultado às 17h no Cemitério Getsêmani.