Título: Imprevistos ditam o ritmo
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 22/11/2009, Economia, p. 31

Mesmo sem chuvas, o acesso é difícil

MANAUS. Por maior que seja o planejamento das missões para a instalação das máquinas do Banco do Brasil (BB) na selva, uma coisa é certa: tudo pode acontecer. A Amazônia impõe um ritmo de trabalho no qual o imprevisto é uma constante.

Voos cancelados pelo mau tempo, por problemas nas aeronaves que a Aeronáutica empresta ao Exército ¿ que, por sua vez, dá carona ao BB ¿, alagamentos ou nevoeiros estão sempre no radar.

Mesmo quando não chove, as dificuldades são imensas. Há algumas semanas, a região de São Gabriel da Cachoeira está inacessível por causa da seca. Sem chuva, o volume de água do rio diminuiu, impedindo a passagem das balsas que carregam o combustível que abastece a região. Não há como reabastecer. Portanto, as poucas aeronaves que chegam aos grotões mais afastados não saem e esperam a chuva cair. Esta é uma das razões para os trabalhos lentos no local.

Os idiomas indígenas oferecem dificuldades adicionais. Em Maturacá, há uma importante população ianomâmi. Em Iauretê, os locais falam 20 dialetos. Muitos destes indígenas são analfabetos. Alguns não leem nem escrevem porque não enxergam bem. O BB tem investido no tratamento destas pessoas.

O desafio de fazer estes povoados amazônicos usarem os terminais do BB parecem não ter fim. O banco teme a falta de abastecimento de notas nas máquinas, diante das inúmeras dificuldades de acesso e a imprevisibilidade das missões. Por isso, decidiu manter dois terminais por localidade. Assim, há mais dinheiro disponível, e aumentam as chances de as pessoas continuarem usando o banco, ainda que uma máquina falhe.

As missões podem ser mais curtas ou mais longas, mas isso é algo que só se sabe de última hora. Estes aviões também carregam os suprimentos para os pelotões do Exército no interior da Amazônia.

Este que ainda não saiu deve levar duas toneladas de alimentos, além de equipamentos do BB.

Os imprevistos não pouparam a inauguração dos terminais do banco. Os atrasos e problemas de logística não permitiram marcar nova data. Diz-se que a queda do avião Caravan da FAB na Amazônia, no mês passado, teria prejudicado ainda mais os trabalhos do Exército. Mesmo quando saem voos com suprimentos, não dá para saber quando voltam. (Vivian Oswald)