Título: Com retomada, Zona Franca de Manaus contrata
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 22/11/2009, Economia, p. 33
Seis mil dos 27 mil trabalhadores dispensados durante a crise são readmitidos. Setor eletroeletrônico puxa recuperação
MANAUS. Heletiano Neto, de 33 anos, escapou das primeiras demissões em massa da Zona Franca de Manaus (ZFM) provocadas pela crise financeira ¿ que atingiu em cheio a produção de manufaturados da região há pouco mais de um ano. Em abril, contudo, foi surpreendido com a inclusão de seu nome na lista dos novos demitidos e se juntou ao exército de mais de 27 mil desempregados do setor industrial do estado. Cinco meses depois, com a recuperação das vendas, Neto e outros seis mil trabalhadores já foram reincorporados pelo mercado.
A trajetória de Neto demonstra o que empregados e empregadores relatam: o Distrito Industrial ¿ área de dez mil quilômetros quadrados onde funcionam 500 empresas sob o regime de Zona Franca ¿ finalmente engatou a retomada.
O pânico do início do ano foi perdendo força com os últimos cinco meses de crescimento da indústria, ainda que o setor amargue queda de 26,9% no faturamento de janeiro a setembro, sobre o mesmo período de 2008, segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
BB estima R$ 1 bi em investimentos em 36 meses O setor bancário também garante que já é possível identificar a volta por cima pela quantidade de investimentos planejados e a fila de interessados em novos financiamentos. Só na semana passada, o Banco do Brasil (BB) recebeu de clientes propostas que somam R$ 170 milhões apenas para o setor imobiliário. A instituição estima novos investimentos da ordem de R$ 1 bilhão nos próximos 36 meses. E os negócios com a indústria voltaram a crescer, depois dos altos índices de inadimplência que assustaram no começo do ano.
Quando a crise chegou ao polo industrial de Manaus, havia 113 mil pessoas trabalhando no complexo. Este número chegou a 86 mil no pior momento da turbulência. O segmento de eletroeletrônicos, que responde por cerca de metade da mão de obra do setor, foi o mais afetado. Por isso mesmo, agora é o que puxa a retomada.
Sorte de Neto, que é montador de computadores na Zona Franca. Durante os meses que ficou sem ocupação, fez as vezes de pintor e servente de obras para sustentar a família. Até que outra empresa do mesmo ramo o chamou para trabalhar em um posto temporário, onde já está há três meses e com perspectivas de ser efetivado.
¿ Cinco linhas foram dispensadas no fim do ano passado: 200 pessoas. Segui adiante, depois das longas férias que fomos obrigados a tirar. Acabei demitido com outros colegas. Alguns ainda não têm emprego e vivem de biscate. Garanti o meu, por enquanto. O salário ainda não é a mesma coisa. Paciência ¿ afirma o montador, que vive com a mulher, a filha e a mãe.
Férias coletivas de fim de ano serão mais curtas Eric Rodrigues Serra, 43 anos, usou a velha motocicleta que guarda na garagem de casa para trabalhar como motoboy autônomo durante os oito meses em que ficou desempregado, após ter sido demitido. Ele também foi recontratado em regime temporário por outra empresa, que produz alarmes: ¿ Ainda está devagar. Se as vendas subirem, posso ficar.
Mesmo com a crise, em 2008 a Zona Franca de Manaus teve seu melhor faturamento da História, de US$ 30 bilhões. Para este ano, as estimativas são de US$ 25 bilhões. A redução, segundo os especialistas, é menos assustadora do que podem indicar os números, tendo em vista a base da comparação.
No mês que vem, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, Waldemir Santana, as férias de fim de ano não devem passar de dez ou 20 dias, e novas contratações estão no horizonte. É bem verdade que os trabalhadores começam o ano com uma dívida, que consideram boa. Para não perder os empregos durante a crise, concordaram com os patrões em diminuir jornadas de trabalho, sem que salários fossem reduzidos, mas com o compromisso de compensar as horas a menos no futuro