Título: Transações correntes têm rombo de US$2,9 bi
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 25/11/2009, Economia, p. 28

Déficit de outubro é o pior do ano. BC projeta resultado negativo de US$18 bi em 2009, e analistas, de US$20 bi

BRASÍLIA. As transações correntes - operações de bens, serviços e rendas do Brasil com o resto do mundo - registraram em outubro o pior déficit de 2009, de US$2,911 bilhões. Para novembro, o Banco Central (BC) projeta um rombo ainda maior: US$3,4 bilhões. Os principais fatores são, na avaliação do BC, a piora no desempenho da balança comercial observada a partir do mês passado; o aumento das despesas de brasileiros com viagens internacionais; e o maior volume de remessas de lucros e dividendos das empresas para suas matrizes no exterior.

As transações correntes formam, com a conta de capital (investimentos para o setor produtivo e o mercado financeiro), o balanço de pagamentos. Elas não representam um problema até que o balanço fique desequilibrado, ou seja, uma conta não cubra o déficit de outra. No momento, isso não ocorre.

- Estamos tendo um viés de alta no déficit - admitiu o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, acrescentando que isso está associado à retomada do crescimento da economia brasileira e ao aumento de renda, o que eleva as importações de empresas e de consumidores.

O resultado de outubro foi influenciado pela conta de serviços: viagens internacionais teve déficit de US$785 milhões, e aluguel de equipamentos, de US$898 milhões. Também pesou o US$1,895 bilhão negativo das remessas de lucros e dividendos. Em parte, isso foi compensado pelo superávit da balança comercial, de US$1,328 bilhão.

Entre janeiro e outubro, o déficit acumulado é de US$14,788 bilhões. O BC projeta encerrar 2009 com rombo de US$18 bilhões. Mas, em relatório divulgado ontem, o Bradesco prevê déficit anual de US$20,7 bilhões. A projeção para o mês era de US$2,6 bilhões.

O chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, no entanto, ressaltou que o país tem condições de financiar esse déficit. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, lembrou que a situação hoje é diferente da dos anos 1990, quando as reservas internacionais eram baixas e a dívida pública, alta e de curto prazo:

- O Brasil hoje pode se dar ao luxo de ter um saldo negativo em transações correntes.

Investimentos estrangeiros despencam este mês com IOF

Depois do recorde histórico em outubro, os investimentos estrangeiros no mercado financeiro despencaram este mês, segundo dados parciais (até o dia 18) divulgados ontem pelo BC. Uma das causas, disse Maciel, é a cobrança, a partir de 20 de outubro, do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Os valores negociados na Bolsa saíram de US$9,705 bilhões em outubro para US$1,521 bilhão (entre os dias 1º e 18) este mês, segundo o BC. Em títulos de renda fixa, as aplicações de estrangeiros caíram de US$2,760 bilhões para US$351 milhões.

Já Agostini apontou fatores externos, como dados negativos de bancos americanos e rumores sobre o fim dos programas de estímulo em vários países:

- Há algum efeito do IOF, mas não a ponto de causar essa queda. Acredito numa retomada em dezembro.