Título: China e Rússia pressionam o Irã
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Fonte: O Globo, 25/11/2009, O Mundo, p. 30

Aliados se afastam do país na AIEA. Ahmadinejad visita Bolívia

LA PAZ, TEERÃ e VIENA. Enquanto desbrava a América do Sul na tentativa de sair do isolamento internacional, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, enfrenta um cerco cada vez maior devido ao seu programa nuclear, inclusive de aliados firmes como China e Rússia. Ao mesmo tempo em que angariava um apoio entusiasmado do presidente boliviano, Evo Morales, ontem Ahmadinejad recebeu a notícia de que o grupo de seis países que lidera as negociações da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou a redação de um projeto que pode levar as suspeitas sobre o país ao Conselho de Segurança da ONU.

Em Viena, o grupo composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, França, Reino Unido, China e Rússia) mais a Alemanha anunciou um projeto de resolução que exige explicações do Irã. Teerã deve fornecer à AIEA o propósito original e o projeto da usina de Qom, descoberta este ano. Além disso, convoca o país a declarar oficialmente que não possui mais nenhum material nuclear além do já conhecido.

- Houve um forte acordo no encontro dos seis países de que a revelação (da usina de Qom) foi um desdobramento muito sério - disse um diplomata em Viena.

Morales elogia postura de Ahmadinejad contra o imperialismo

Caso o projeto de resolução seja aprovado pelos 35 países da AIEA, pode ser remetido ao Conselho de Segurança da ONU. A última vez que isso ocorreu foi em 2006. Salta aos olhos a postura firme de velhos aliados de Teerã, como China e Rússia. No caso de Moscou, a relação com Teerã parece estar por um fio. O governo iraniano acusou ontem os russos de não cumprirem um acordo comercial de venda do sistema antimísseis e aeronaves S-300, e ameaça processar o país.

- Os russos, certamente sob pressão do lobby sionista (Israel) e dos EUA, recusaram-se a cumprir suas obrigações - disse o general Mohammad Mansourian. - E porque este é um acordo oficial podemos processá-los em organismos internacionais.

Um dia depois de ser recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ahmadinejad foi hóspede de Morales. O boliviano elogiou a postura internacional do líder iraniano.

- Você encarna a luta pela dignidade do povo iraniano. Os nossos dois povos nos deram o mandato para que nos livremos dos impérios. Onde há um império não há desenvolvimento nem paz social - disse Morales.

Os dois assistiram, pela TV, à inauguração de obras financiadas pelo Irã no interior da Bolívia, e também anunciaram a participação iraniana na exploração de lítio no país.

- Ainda que exista uma larga distância entre nós, nosso coração e nossos pensamentos estão próximos - disse Ahmadinejad.

Opositores de Morales afirmaram que o interesse de Ahmadinejad no país é pelas reservas de urânio da Bolívia. O presidente iraniano ficou apenas algumas horas no país e partiu ontem à tarde para a Venezuela, onde se encontrará com seu maior aliado, o presidente Hugo Chávez.