Título: Menos desmatamento e queda nas emissões
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 25/11/2009, Ciência, p. 32

Redução da destruição da Floresta Amazônica diminui lançamento de CO2 na atmosfera pelo Brasil

Odesmatamento da Floresta Amazônica entre 2007 e 2008 respondeu por até 2% das emissões globais de CO2, o principal gás do aquecimento global, no período. O número faz parte de estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apresentado ontem pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente. O trabalho mostra uma redução das emissões históricas derivadas da destruição da mata e, consequentemente, do lançamento de CO2.

O desmatamento das florestas tropicais em larga escala faz com que o Brasil (que tem uma matriz energética razoavelmente limpa, calcada, em boa parte, em hidrelétricas) figure entre os cinco maiores emissores do mundo. As emissões do desmatamento correspondem a 52% do total emitido no país.

Reduzir a destruição da floresta em 80% e, com isso, diminuir drasticamente sua contribuição para a elevação das temperaturas do planeta é o cerne da proposta que o Brasil pretende apresentar na Conferência das Mudanças Climáticas da ONU, em Copenhague.

Segundo o levantamento apresentado ontem, entre 1999 e 2008 a destruição da Amazônia foi responsável pelo lançamento de 700 a 800 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera ao ano. Com a queda na taxa de desmatamento, entre 2007 e 2008, a média das emissões também diminuiu para 500 a 550 milhões de toneladas ao ano. De acordo com Carlos Nobre, chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe, isso equivaleria de 1,1% a 1,9% das emissões globais no período.

- Isso não é pouco - reconhece Nobre. - Mas é preciso ver que houve uma enorme redução nos últimos dois anos. E a redução será maior ainda porque não entraram nessa conta os números de 2009, que foram significativos.

Para outro autor do estudo, Jean Ometto, a redução do desmatamento e das emissões entre 2007 e 2008 merece ser comemorada:

- O número resulta em uma contribuição menor do desmatamento da Amazônia para as emissões totais do país e do mundo.

O cálculo da quantidade de dióxido de carbono lançado à atmosfera pela destruição da floresta servirá para subsidiar políticas de redução do desmatamento e de mitigação dos efeitos do aquecimento global. O Inpe usou como base os dados do sistema Prodes, que monitora o desmatamento via satélite. A margem de erro é de 15%.

- Agora o Brasil dispõe de um sistema mais avançado para estimar emissões por desmatamento. O cálculo leva em conta todas as fases: do momento em que a árvore cai até o momento em que os gases chegam à atmosfera - explicou Nobre.

Pará registrou as maiores emissões

Foram calculadas as emissões em cada um dos nove estados da Amazônia Legal. Os resultados, segundo o Inpe, refletem as diferenças socioeconômicas e biofísicas regionais. Mato Grosso, por exemplo, contribuiu com 36% das taxas de desmatamento regionais no período de 1989-1998, embora tenha causado apenas 29% das emissões líquidas no mesmo período.

A diferença entre os percentuais de desmatamento e de emissões ocorrem pela variação da biomassa nos diferentes estados amazônicos (há regiões em que a floresta é menos densa do que em outras).

O novo sistema de medição das emissões por desmatamento servirá de base para verificar a contribuição que a destruição de outros biomas tem para o aquecimento.

- Pretendemos desenvolver esses cálculos para o Cerrado também - disse Nobre.