Título: Violência é pior para jovens do Norte e Nordeste
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 25/11/2009, O País, p. 14

Maceió é a capital mais violenta do país; SP é a menos perigosa; e Rio é a oitava pior do ranking, segundo pesquisa

SÃO PAULO. Os jovens do Norte e do Nordeste do Brasil estão muito mais vulneráveis à violência do que os do eixo Rio-São Paulo. Maceió é a capital mais violenta do país para quem tem entre 12 e 29 anos de idade, seguida por outras seis capitais dessas regiões. São Paulo é a mais segura para a juventude. O Rio é a oitava capital mais violenta e está na 64º posição entre as 266 cidades com mais de 100 mil habitantes. A cidade mais violenta do Brasil para os jovens é Itabuna, na Bahia.

O ranking foi divulgado ontem pelo Ministério da Justiça e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que desenvolveu um indicador inédito, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJV), a partir de cinco diferentes indicadores sociais: taxa de homicídios, mortes em acidentes de trânsito, empregabilidade e educação, pobreza e taxa da desigualdade social.

- A pesquisa derruba determinados mitos, como o de que a situação mais vulnerável é a da juventude do Rio. Não é. Tem problemas no Rio, mas é no Nordeste o maior problema: indicadores sociais baixos, pouca aplicação de recursos para renovar a segurança pública e poucas políticas preventivas, que agora estão começando, com a adesão de municípios ao Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) - disse o ministro Tarso Genro.

O IVJV leva em consideração dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados de São Paulo), de 2006, com metodologia desenvolvida pelo Laboratório de Análises da Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Além de São Carlos ser a mais segura, outras cidades do interior paulista e do ABC estão entre as de menor vulnerabilidade, como São Caetano, Franca, Bauru, Americana, Araraquara, Mogi Guaçu, Araras, Ribeirão Preto e outras.

Um terço dos jovens diz conviver com violência

O indicador de vulnerabilidade dividiu as cidades em cinco grupos: vulnerabilidade muito alta, alta, média, média-baixa e baixa. Das 43 cidades de vulnerabilidade muito alta e alta, 27 são do Norte e do Nordeste. Entre as dez do grupo de vulnerabilidade muito alta, nenhuma é capital, mas entre as cidades de risco alto, há seis capitais, todas do Norte e Nordeste: Maceió, Porto Velho, Recife, Belém, Macapá e Teresina.

Entre as cidades mais violentas para os jovens estão Marabá, cenário de conflito de terras no Pará, segunda do ranking, e a turística Foz do Iguaçu, na Tríplice Fronteira, terceira. No Rio, o pior índice é de Duque de Caxias, 15ª no ranking nacional e considerada de alta vulnerabilidade. Depois vêm Araruama e Cabo Frio. Petrópolis é a cidade com mais de 100 mil habitantes onde os jovens estão menos suscetíveis à violência no Rio (257º do ranking nacional).

- A questão é aguda no Norte e Nordeste, mas o problema é no Brasil todo. O cenário é complexo e as autoridades precisam entendê-lo para traçar políticas públicas- disse Renato Lima, secretário-geral do Fórum.

Lima explica por que a percepção da violência em São Paulo e Rio, por exemplo, é maior do que dados reais de vulnerabilidade da juventude:

- Nas pesquisas sobre vitimização, é comum que a percepção do risco seja inversamente proporcional ao risco efetivo. Um jovem acostumado a ver, na periferia, o corpo de uma pessoa assassinada se acostuma. Para outra que não está acostumada, a cena chama a atenção, aumentando a sensação de insegurança.

Além de produzir o indicador, o Fórum e o Datafolha fizeram pesquisas em 31 municípios, incluindo Rio e São Paulo, para entender a percepção dos jovens sobre violência. Segundo a pesquisa, um terço dos jovens afirmou conviver com a violência, e 31% disseram ter facilidade para adquirir arma de fogo.

Para o ministro Tarso Genro, o que explica o bom desempenho paulista é o desenvolvimento econômico, além de políticas de segurança pública:

- São Paulo tem um sistema de segurança mais consolidado. Temos muitos municípios no Pronasci e colaboração das prefeituras. Não quer dizer que não tenha problemas, tem problemas graves, mas, quanto mais desenvolvido o estado, mais articulado o sistema estatal de segurança, melhoram os índices.

A coordenadora do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (Ilanud), Paula Miraglia, que analisou os dados, explica o bom desempenho de São Carlos:

- São Carlos desenvolve política pública para a juventude, tem projeto modelo. A mortalidade por arma de fogo no Brasil mostra como a violência está presente entre jovens.