Título: Lula tem razão em dialogar com Ahmadinejad
Autor:
Fonte: O Globo, 26/11/2009, O Mundo, p. 36
CLÉMENT THERME
PARIS. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está certo ao buscar um diálogo com Mahmoud Ahmadinejad, diz Clément Therme, do Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento, em Genebra. Por um motivo: a voz do Brasil, por ser um país emergente do Sul, será mais ouvida pela elite iraniana do que as vozes ocidentais da Europa ou dos Estados Unidos.
O que o presidente iraniano ganha com esta turnê latino-americana?
CLÉMENT THERME: Uma possibilidade diplomática. Dá a impressão de que a República Islâmica sai do isolamento internacional. O Brasil adotou uma posição firme para validar a reeleição de Ahmadinejad imediatamente depois das eleições. O presidente do Irã foi à América Latina para obter apoio, já tendo em vista o fato de que vai assumir a presidência do Movimento Não-Alinhado.
O presidente Lula errou ao receber Ahmadinejad?
THERME: Não penso que o objetivo do presidente Lula seja dar legitimidade ao líder iraniano, mas sim de jogar o papel de mediador no conflito nuclear que opõe os países ocidentais e o Irã. Ele tem razão de desenvolver um diálogo com o Irã. Sendo um país emergente do Sul, a voz do Brasil é mais ouvida pelas elites iranianas do que as dos países europeus ou ocidentais.
China e Rússia, que até agora eram reticentes, apoiam um projeto de resolução na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que exige explicações do programa nuclear do Irã. É uma mudança?
THERME: A cooperação bilateral entre Irã e Rússia não está em bom estado. A Rússia não entregou arranjos que prometeu ao Irã. Há claramente um problema de confiança entre os dois parceiros. Mas a China e a Rússia disseram que não querem sanções contra o Irã. É uma resolução da AIEA e não do Conselho de Segurança. Rússia e China praticam um duplo jogo. De um lado, eles privilegiam a relação com os países ocidentais, com quem eles têm um interesse comercial e estratégico - e isso continua uma prioridade. Mas ao mesmo tempo guardando relações com o Irã.