Título: Brasil pediu um gesto para a distensão
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Fonte: O Globo, 26/11/2009, O Mundo, p. 36

Na conversa com Ahmadinejad, presidente sugeriu mais transparência e disposição ao diálogo

BRASÍLIA. Na carta que enviou no último domingo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, explicitou suas críticas em relação ao descumprimento pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, das regras estabelecidas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Segundo autoridades brasileiras que tiveram acesso ao conteúdo da carta, a interpretação é que Obama teria estimulado o Brasil a "fomentar esforços de diálogo com o Irã" para que aquele país aceitasse os termos do acordo da AIEA.

Na carta, Obama deixou clara a posição dos EUA em relação ao Irã. O americano acrescentou que o governo iraniano deve respeitar as negociações e tratados internacionais e, principalmente, a AIEA. Segundo relatos de assessores do governo, o presidente Lula tratou justamente da questão nuclear no encontro reservado que teve com Mahmoud Ahmadinejad na última segunda-feira. Lula pediu ao iraniano que fizesse um gesto para mostrar à comunidade internacional que está disposto a dialogar e tornar seu programa nuclear mais transparente para "distensionar" o assunto no cenário internacional. Ahmadinejad teria apresentado ao presidente Lula uma visão detalhada do seu programa nuclear. Segundo um interlocutor do presidente Lula, o pedido feito por Brasília estaria em sintonia com as preocupações explicitadas por Obama na carta.

O Palácio do Planalto interpretou a mensagem do presidente americano como um gesto de que "Obama estava vendo com bons olhos o papal que o Brasil está jogando" neste tema. A carta foi enviada na véspera da visita de Ahmadinejad ao Brasil, e, apesar de o presidente americano ter abordado outros três temas, a urgência da mensagem evidenciou a preocupação de Obama com o encontro.

Tanto que, segundo fontes do governo brasileiro, na introdução da carta o americano se desculpa por estar escrevendo a mensagem em vez de fazer uma ligação telefônica. Uma ligação entre chefes de Estado, normalmente, é agendada com antecedência.