Título: Israel aceita congelar parcialmente construções
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 26/11/2009, O Mundo, p. 37
EUA comemoram, mas palestinos criticam oferta, que exclui 3 mil casas com obras em andamento ou já autorizadas
PALESTINOS TRABALHAM em assentamento israelense em Maaleh Adumim, na Cisjordânia, fora do acordo; oferta também exclui Jerusalém
JERUSALÉM. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, concordou em congelar parcialmente a construção de assentamentos na Cisjordânia temporariamente por dez meses. Interpretado por alguns analistas como a primeira pequena vitória do presidente americano, Barack Obama, na tentativa de trazer de volta israelenses e palestinos à mesa de negociações, o anúncio, no entanto, foi recebido com desconfiança pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) e até mesmo pela própria Casa Branca.
EUA criticam exclusão de assentamentos em Jerusalém
Escolhendo as palavras com cautela, Netanyahu deixou claro que o plano de suspender a construção de novas casas nos territórios ocupados não inclui Jerusalém ¿ onde não haverá qualquer limitação que impeça novas obras públicas e privadas ¿ nem projetos em andamento ou já aprovados. Com isso, 3 mil unidades residenciais poderão continuar a ser construídas.
¿ É um passo doloroso, mas o papel de um líder é tomar decisões difíceis na hora certa. É interesse nacional proporcionar as condições necessárias para negociar a paz. Em Jerusalém, nossa capital, soberana, não haverá quaisquer restrições a novos empreendimentos ¿ ressaltou Netanyahu.
A decisão foi tomada após uma reunião de Gabinete que se estendeu por mais de quatro horas. É a primeira vez que um governo israelense se compromete publicamente a suspender a colonização antes mesmo da retomada das negociações diplomáticas com palestinos.
Enquanto em Jerusalém fontes ligadas ao Gabinete mostravam-se seguras de que a manobra traria de volta as negociações entre Israel e a ANP, em Ramallah, na Cisjordânia, o clima era de ceticismo e insatisfação. O principal negociador palestino, Saeb Erekat, disse que o anúncio de Netanyahu ¿não é suficiente¿. Demonstrando irritação, Nabil Abu Rudeinah, porta-voz do presidente palestino, Mahmoud Abbas, reiterou que as negociações só serão possíveis diante do congelamento completo de todos os assentamentos, incluindo Jerusalém.
¿ Jerusalém para nós e todo o mundo árabe é como uma linha vermelha, um assunto intocável. Não há acordo ou diálogo sem que cesse a construção em Jerusalém ¿ advertiu o porta-voz.
Tentando manter o otimismo, em Washington, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, destacou a importância da decisão israelense para pôr fim à estagnação das negociações no Oriente Médio e implementar a solução de dois Estados. O enviado especial americano à região, George Mitchell, comemorou a decisão, mas criticou medidas israelenses unilaterais envolvendo a soberania de Jerusalém. Segundo ele, os EUA discordam da crescente onda de demolições de casas palestinas no lado oriental da cidade disputada.
¿ Já deixamos claro que condenamos qualquer decisão tomada unilateralmente. O status final de Jerusalém só pode ser definido diante de um acordo. A suspensão das construções é um primeiro passo, significativo. É mais do que qualquer outro governo israelense fez pela paz. Não houve nada parecido durante a administração Bush ¿ disse Mitchell, alfinetando o governo anterior.
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